Monday, September 24, 2007



AVISO


banda sonora: dEUS: Nothing really ends

Após deixar Leiden para trás. Cuja memória ficará é claro e etc,etc,etc... vou dar o capítulo por encerrado fechando as últimas linhas. Estas.
De resto, continua tudo numa interminável onda de páginas desinteressantes em:



Thursday, August 30, 2007


ciao bella Leiden

banda sonora: The Beatles - Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band

Adeus aos canais, aos moinhos, à vida ordeira, às bicicletas, às holandesas, a um idioma incompreensível, aos fabulosos cartazes de concertos, aos comboios pontuais e ao mau tempo...

...e um beijo para quem fica!

Itinerário de regresso:

Saída hoje, paragens pelo caminho, chegada a Barcelona amanhã ao final do dia, saída de Barcelona dia dois, chegada a Lisboa na madrugada de dia 3. (dará para ver o concerto de ratatat em Barcelona dia 31? Avariará o nosso carro comprado por 400 euros?)

Ir trabalhar dia 3.

Monday, August 27, 2007




Tot siens Leiden


Banda Sonora: Lambchop, The distance from her to me


A correr de um lado para o outro, em trabalho e encerrando assuntos pessoais, a imagem de Leiden vai criando distância e a fotografia da minha vida em Lisboa torna-se mais clara. Um certo nervoso, típico de momentos de mudança vai crescendo dentro de mim deixando um incómodo semelhante ao da lua cheia que se revela lá fora.

Por mim, Leiden é um capítulo feliz e finalmente terminado, arrependimentos? Não tenho nenhums, vida em Portugal? É o futuro próximo, felizmente ainda com muito por decidir e muitas decisões a tomar, ficaram como uma prenda para mim, uma pessoa diferente passado este ano. Parece-me que o que quero dizer é que me sinto um boomerang, cada vez que é atirado para fora de casa volta, mas ao contrário de um boomerang normal, volto um pouco diferente, e como todos imaginamos, um boomerang diferente voa de maneira diferente quando de novo atirado.

Wednesday, August 22, 2007


A Fauna de Leiden - excerto retirado de um mail "descrítico" (crítica descritiva)


banda sonora: Arto Lindsay - Animal Animale

Leiden é uma cidade que tem uma população total ligeiramente inferior à do Porto (cidade, sem contar com arredores), até são números interessantes. O problema é que Leiden divide-se em duas partes, o centro, típica cidade holandesa com canais, moinhos e casas tortas como é típico deste país e os arredores. Os arredores, às vezes quando faz bom tempo vou andar uns 20 km de bicicleta por eles, são compostos por pequenas casas com 4 bicicletas estacionadas em frente, uma para o pai, outra para a mãe e duas para os filhos, ao lado da pequena vivenda, uma garagem, com o carro do pai, o da mãe e um para os filhos dividirem se ambos tiverem idade para conduzir. Atrás, um pontão sobre um largo canal ou lago onde está o pequeno barco de família. A casa do lado será exactamente igual e todas se repetem interminavelmente sem qualquer piada. O cheiro a estrume é também comum e as vacas e ovelhas preenchem o resto da paisagem bucólica. Goes without saying, não tem qualquer interesse em visitar, por isso eu estou sempre no centro, onde vivo.


O centro é bonitinho, mas desesperantemente aborrecido. Leiden tem uma grande universidade, mas não tem a vida nocturna que tipicamente acompanha uma universidade segundo os nossos padrões sul europeus. Isto porque aquilo que uma universidade dá a uma cidade são os estudantes, que costumam ser motor de uma atitude borguista e prazenteira que anima as ruas (lembro-me de Salamanca e a sua fantástica vida nocturna). Aqui, os estudantes dividem-se em fraternidades, são três as principais fraternidades, a Minerva (ergo, os seus membros são os minervinhas), a Augustinos (ergo, os augustininhos) e a Quintos (ergo, os quintitos). Metade dos prédios são usados como residenciais destes seres, eu vivo em frente de um pejado de augustininhos e eles são seres tão divertidos que posso asssegurar-te, nunca tive vizinhos tão silenciosos como eles. A velha que vivia na casa em frente da dos meus pais, pese os seus setenta anos, cuspia da varanda em noites de calor ouvindo o seu rádio, aqui, os meus augustininhos, estão na cama às 10 da noite. Não fossem eles tão pouco divertidos que continuaria a não os conhecer realmente. Vivem num ambiente de fraternidade fechado, só membros podem ir às festas e estas acabam à meia-noite, eventualmente como resultado do preço da cerveja barato. É uma mistura explosiva, por um lado são nórdicos, logo bebem até cair e por outro lado Holandeses, não podem dizer que não a uma promoção de preços. Cerveja barata assim, só pode ter uma conclusão possível.


Do outro lado da balança aos seres das fraternidades que são fechados e desdenham quem não for membro, existem os locais de Leiden. Ora, os locais são muito diferentes dos minervinhas & Co. Um Minervinha distingue-se facilmente pois num dia de verão como hoje, em que choveu apenas de manhã e fazem 15 graus está vestido com fato-de-banho laranja e camisa Ralph Lauren azul às riscas, tradicional, a qual está por dentro do fato-de-banho. O local de Leiden nunca vestiria assim , local de Leiden parece mais um lenhador pese saber, por experiência, que provavelmente é agricultor e não lenhador. Digamos que em Viseu(não, não, Viseu não, uma aldeia perdida no distrito de Viseu com mais mulas que carros) a massa urbana tem um ar mais citadino que os locais de Leiden. Ao domingo, o local de Leiden veste-se a rigor, assim como o Português de aldeia põe o seu fato ao domingo, no caso do local de Leiden, não é um fato contudo, são umas jeans justas e curtas que revelam a meia branca sobre sapatos pretos quadrados, uma camisa branca, um blaser azul escuro também justo e coçado. Leva uma boina de marinheiro na cabeça por vezes, azul branca e com uma âncora dourada no topo, o que faz a minha delicia tenho de admitir pois fica-lhes ridiculo. Infelizmente a boina não é sempre, e o normal é terem o seu cabelo loiro farto puxado atrás e preso com gel num gorduroso que combina com o resto.


Os locais detestam e ignoram os estudantes. Faz todo o sentido, numa cidade universitária, o local passará toda a sua vida, o estudante passará cinco anos, por isso não tem sentido travar amizade com ele, isso explica o ignorar do estudante. O detestar do estudante passa pelo que o minervinha é, vestido da sua forma ridicula, caminhando em grupos de chacais, na sua forma ridicula de ser e no tom pedante que apresentam.


Por muito estranho que pareça, eu consigo falar mais facilmente com um local do que com um estudante Holandês, a tática é simples e poderá ser útil caso algum dia saibas de alguém que para cá venha. Sento-me num bar local ao balcão, começo a falar com o local ao meu lado e ao fim de dois minutos de receber um tratamento evasivo, menciono que de minervinhas a quintitos, todos sem excepção deviam ser afogados no canal. Funciona sempre, é um sorriso ganho.


Claro que neste ambiente de dois pólos que se odeiam, há vitimas, danos colaterais como em qualquer guerra. Neste caso são os estudantes que não pertencem a fraternidades. Não apenas os estudantes internacionais como me vim a aperceber com horror. Uma das pessoas com quem melhor me dei por aqui na categoria de "Locais>Holandeses", uma rapariga simpática e relaxada, pese a parca inteligência, girita e ex-modelo (ex-modelo, ELLE e cosmopolitan, ou seja, profissional a sério),confidenciou-me que demorou cerca de ano e meio a ter amigos em Leiden. Este exemplo serve-me os propósitos de demonstrar a demência de Leiden. Imagina uma modelo da ELLE Portuguesa em Portugal, a chegar a uma universidade como estudante e demorar um ano e meio a ter amigos.

Tuesday, August 21, 2007

Kafka on the Shore

banda sonora: Belle & Sebastian - Is it wicked not to care?

Ontem fui jogar uma hora de snooker com o Jason. Ao sair da biblioteca é normal não apetecer ir logo para casa e jogar snooker é provavelmente a única coisa que há para fazer em Leiden. Escolhemos o bar mais perto com uma mesa, uma velha mesa que nem sequer é plana e que, para nosso azar, estava ocupada. Como quem estava a jogar tinha ar de demorar, decidi perguntar se podiamos jogar "doubles", eles aceitaram e, para lá do jogo, foram companhia agradável.


Eram irlandeses, de Belfast.
Bill:"we're irish"
Bolivar: "Dublin?"
Bill: "Belfast"
Bolivar:" oh, so northern Irish"
Bill, com um sorriso cúmplice: "ay, Irish".

Bolivar to himself: "...uppssss!"

Mas não ouve disputa à mesa. Ele era formado em Artes, ela era formada em Jornalismo, tinham respectivamente, 36 anos e 31. Tinham abandonado a Irlanda e as suas profissões pelas mesmas razões que oiço os Portugueses a queixar-se da falta de saída profissional nas mesmas áreas. O jornalismo, dizia-me ela, passa por realizar estágios mal remunerados, quando são remunerados, onde a única coisa que fazia era servir cafés. (que discurso tão familiar para mim e que oiço tantas vezes em Lisboa).

Há dez anos então, vieram para a Holanda. Trabalham como pintores, não dos artísticos, note-se, pintores. Fazem cá três meses de trabalho e depois têm três meses de folga. Vão a casa, ou vão a outro lado qualquer. Passam assim a vida. "ten years ago, they would pay 600 euro per week, and that was ten years ago". (...Deixa-me a pensar o que ando a fazer da minha vida...Deixa-me a pensar, quão leguminosos aqueles que se queixam em Lisboa ficando, ficando, ficando...).

Falamos de Murakami e trocamos sorrisos cúmplices, falamos da dificuldade em viver das 9 às 5. Acabamos o jogo sem nos preocupar quem ganha, em tom de despedida, Jason oferece uma cópia velha das Calligrammes de Apollinaire em Francês, tem muitos livros e não sabe como os levar de volta a Berlim, seu próximo destino. Dizemos até logo, sabendo que provavelmente nunca mais nos veremos.

Ela, não me lembro bem do nome dela e nunca o saberei, sai radiante com as Calligrammes na mão: "my mother sent me some tea she knows I love, this will go perfectly with it, I miss some decent French poetry".

São pessoas assim, não vadios mas vagueantes, que por terem self-confidence (estou a virar emigrante, desculpem-me), tiram um enorme peso dos ombros. De facto, quem tem prazer em Apollinaire, não precisa de uma televisão.

Filhos da nova economia. Se o objectivo final do Homem é de facto o ócio, eles estão muito mais perto, não interessa o trabalho que fazes, nem a qualificação que levas contigo. Enquanto eles saiam pela porta fora, eu senti que William Henley saía com eles.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll,
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.

e para mim? Não trouxe Apollinaire para casa, trouxe a recordação que há gente assim, da felicidade em encontrá-los, que em Lisboa também conseguirei falar de Murakami, não posso é desistir de o encontrar mesmo sabendo que pessoas assim, não se podem procurar.

Monday, August 20, 2007



banda sonora: Beirut - Elephant Gun


Disclaimer: not sayin' I'm any better


Recordando o High Fidelity de Nick Hornby, após acordar sem vontade numa manhã fria de verão (que se lixe São Francisco, de longe o mais frio inverno da minha vida é o verão passado na Holanda), todos os meus pensamentos são nublados e carregados de pessimismo, (pois pudera!). O do dia, também não podem ser mais que um par deles por dia se queremos manter uma joie de vivre (sotaque texano na coisa, sff), foi dedicado à minha "brandização", ou ao facto de haver gente paga a peso de ouro que é capaz, num piscar de olhos de me categorizar com milhares de outros carneiros e, pior que tudo, acertar.

P: Brandização? R:Imediatamente saber que tennis é que eu vou querer comprar e que música oiço no meu iPod enquanto os compro, por que filmes me sinto atraido e que livros estão à minha cabeceira. Estou categorizado, estamos todos, o mais genial é também haver uma categoria que alimenta os que recusam essa categorização. Falo do mercado que vende música de letras onde uma voz solitária (preferencialmente de tom Tom Yorke) reclama contra a pequena caixa de pensamento em que todos vivemos, provavelmente até podemos comprar mais barato se levarmos um livro dum sociólogo contestatário norte-americano e um documentário sobre as atrocidades norte-americanas no Iraque.

Temo-lo já preparado, tudo feito para nós, de forma a que através de um processo de participação no sistema possamos sentir que estamos contra ele, é uma forma de confissão industrial, em que compramos informação estrictamente necessária a fundamentar a nossa opinião de guerra ao sistema. A partir daí é só ser-se parvo e acreditar que dizendo-lo estamos a enfrentar algo.

Tudo isto enquanto ouvimos um cd dos Rage Against the Machine, publicado e distribuido pela SONY, vestimos uma T-shirt do Che Guevara, made in USA, viajamos pelo mundo com o guia "American express" parando em locais que eles escolhem por nós, e compramos livros como "How to be an indie kid" com tiragem quase ilimitada e disponível na Amazon.

Parem de comprar, comecem a pensar, deixem de ouvir. Todas as gerações precisam de errar não ouvindo e pensando mal, mas pensando por si.

Friday, August 17, 2007


banda sonora: Marlene Dietrich - Where have all the flowers gone?

Há tanque que nos salve de uma ideia perigosa?

Nós, os da minha geração, nascidos poucos anos após o 25 de Abril, aceitamos a democracia e a liberdade individual como algo garantido.

Ao mesmo tempo, as gerações anteriores recordam-nos que a democracia portuguesa é, na sua forma, precária, falível, mas que é o viver de um sonho, que devemos agradecer todos os dias a liberdade que usufruimos.


Agradecer, vivendo-a, não basta. Agradecer, lutando por ela e vivendo conscientes dela todo o tempo como algo fungível e perecível, é uma obrigação igual ou superior a votar. La lucha de masas y ideas a quien queren quitar el sueño, nas palavras de Fidel (que fez anos dia 13, by the way).


Aqui, na Holanda, num ambiente de estrangeiros exilados como o meu, há Americanos, Ingleses, Escoceses e Holandeses (eles próprios desterrados no seu país como cada vez mais os sinto) os quais tomam a Democracia e a Liberdade como algo garantido. A usurpação de poderes por um líder político é algo que nem lhes passa pela cabeça, o ataque à democracia na sua imaginação passa por tanques militares na rua e lutas armadas entre "bons" e "maus", um terror vermelho, ou fascista que totalitariza o poder em pleno dia.


Não deixa de ter piada, como quem vive hoje as marcas de ter tido tanques na rua num passado recente da sua história sabe que essa usurpação de poderes pode aparecer de forma mais branda e perigosa. Que o tanque normalmente surge como libertador de uma ideia que nos prende. É igualmente engraçado, como eles que não viveram tanques na rua, acham que tanques são necessários para fazer uma revolução que derrube a democracia. São as ideias, não os tanques, que são perigosos. Contudo, sem ideias nem tanques, as suas democracias são fortíssimas.

Monday, August 13, 2007


Fast Forward Dance Parade

banda sonora: LCD Soundsystem - Too much love

No Sábado passado foi a "Fast Forward Dance Parade" em Roterdão. Festa é sinónimo de festa. Como sempre, à boa maneira Holandesa, nunca vi tanta cerveja consumida em tão curto espaço de tempo e de forma tão organizada.

O que nunca deixará de me surpreender, é a forma de organização holandesa. Uma parada é sinónimo de camiões TIR em desfile com pessoas a dançar no cimo deles. Até aí nada de especial. A forma como se desenrola é que continua a ser diametralmente oposta ao que nós podemos imaginar numa cidade como Lisboa no centro da nossa lusitana (des)organização.

O desfile começa a horas. A festa desenrola-se nas ruas e é motivo de festa suficiente não estar a chover. Os membros de cada camião, dançando, variam de idades entre os 15 e os 50, mas há uma clara ausência de pessoas entre os 20 e os 45 o que dá um aspecto deprimente a toda a parada. Dançam com pouca vontade.

Em certos cruzamentos da cidade há música e pessoas dançam, mas tudo em ambientes devidamente limitados e controlados. Ninguém se mexe muito de qualquer forma. Nalguns sítios vêem-se roulottes com o texto: "patat", onde se podem comprar batatas fritas. (Consta que as verdadeiramente boas são as fritas em gordura de cavalo).

No fundo, tudo está planeado e organizado. Tudo decorre no horário previsto e com um sentimento de obrigação. Bebe-se porque tem de se beber, dança-se porque se tem de dançar. No fundo, sente-se que as milhares de pessoas à nossa volta tinham o dia marcado na agenda para fazer aquilo, e fizeram-no, exactamente como planeado.

Saturday, August 04, 2007

Calor
banda sonora: Badly Drawn Boy - Silent Sigh
Faz calor. Os passeios de bicicleta sob o sol sabem bem. Esta terra é uma seca, mas tudo fica tão melhor quando faz calor. Finalmente sol

Sunday, July 29, 2007




O trato humano

banda sonora: Radiohead - Subterranean Homesick Alien

Eva esteve doente, a primeira mulher, aquela que se encontra em todas. Senta-se com Bolivar e a conversa correu, mais ou menos, assim.

E: Já estou melhor agora, obrigado por teres ligado
B: De nada, sei como é chato estar doente.
E: Estavas a falar a sério quando disseste que se precisasse de alguma coisa era só pedir?
B: Sim, claro, estavas doente e eu sei como é chato estar doente, como todas as tarefas diárias pesam...
E: Desculpa não ter respondido
B. Não faz mal, estavas doente, é normal
E: Mas podia ter dito algo na altura...
B: Disseste agora. É indiferente
E: é indiferente como?
B: Da mesma maneira que é natural oferecer ajuda quando alguém está doente, é normal a pessoa doente só quer ser deixada em paz e mandar-nos dar uma volta.
E: Então só ofereces ajuda para essa pessoa te mandar dar uma volta.
B: Não, se por acaso precisasses de ajuda e me pedisses algo, estaria lá para ti.
E: mesmo se tivesse pedido depois de te mandar dar uma volta?
B: Sim, estaria lá, como te disse, é normal. O curso natural das coisas é estar lá para ti porque tu estás doente, tu responderes torto porque estás doente, eu não me importar porque sei que estás doente, e esta conversa era provável acontecer e eu dizer-te que não faz mal nenhum porque na verdade, não faz mesmo.
E: Então é uma espécie de complicada relação, e se eu nunca tivesse pedido desculpa como pedi agora, ficarias chateado?
B: Não, na verdade não ficava, o que disseste na altura não importa agora que estás bem.
E: Então nada importa na verdade, podia fazer e dizer o que quisesse. Nada importa, e o facto de não te preocupares com isso faz-me pensar se realmente te importava o facto de eu estar doente, essa actitude latina de estar presente é, portanto, algo falsa.
B: Estavas doente, agora estás bem, isso importa-me. Perdoar tudo o resto é saber que és humana e que estavas doente, fragilizada, é conviver com a condição humana.
E: Quando estive no hospital, nenhum dos meus amigos me visitou, mas eu sei que ficaram alegres de me ver saudável.
B: A tua doença e as diferentes reacções, as minhas Portuguesas, as dos teus amigos holandeses, são espelhos da nossa diferente forma de viver a humanidade. Deixemos a coisa por aí.



O amigo da Morte


banda sonora: Velvet Underground - The black angel's death song

Na republicação da colecção de literatura fantástica, o volume dois contêm um conto chamado "O amigo da Morte". A organização da colecção foi feita por Borges e, mais um vez, sinto-me agradecido a Borges por momento tão original e de leitura tão agradável. O conto encerra, para mim, uma maravilhosa originalidade, além de conter elementos que rapidamente se compreende terem sido de interesse para Borges, (os quais não revelo pois surgem no fim do conto), houve um pormenor que me fascinou, o herói da história faz um pacto com a morte, a qual se diz sua amiga.

De imediato pensei que o pacto correria mal para ele, escrito numa época de valores católicos fortemente presentes em Espanha, sente-se um clássico momento de Fausto no momento, como se Schlehmihl tivesse acabado de vender a sua sombra à figura demoníaca que o persegue, a imagem está lá, em total semelhança, um herói desesperado, sem finalidade, de alma perdida, tocado no ombro pela morte que lhe fala carinhosamente e um pacto duvidoso assinado. Mas, e o que me pareceu maravilhoso no conto em questão, a morte cumpre o seu pacto e, ainda mais, a venda da sua sorte à morte não só não leva o herói ao engano e perdição mas, pelo contrário, salva-o da perdição do dia do juízo final.

Esta publicação, na mesma altura em que é publicada a "intermitência da morte" de Saramago, foram um óptimo acto de public relationships por parte da morte.

Pelos vistos a nossa condição humana e os dados do destino são negociáveis, temos de ter cuidado é com a contraparte que escolhemos.


L'âme

banda sonora: David Bowie - Soul love

est le principe vital de toute entité douée de vie. Por vezes, a vida parece simples, o princípio é o fim, o Alpha e Omega da vida, não cristo, não deus, não viver o dia, ter, manter, respeitar e amar a nossa própria alma é um simples segredo da vida. Viver numa sociedade rica, consumista como a Holandesa, este confronto presente todos os dias com uma mentalidade diferente, ajuda-nos sempre a situar-nos no planeta e no mundo. A reflectir sobre o que somos e preparar o nosso próprio "manifesto da alma".


Comprar roupas, relógios, máquinas que tanto fazem por nós é exactamente igual a comprar experiências, passeios de rafting, fins de semana românticos. É consumir, experiências ou objectos, consumir é comprar e guardar, em recordações ou na estante, tudo sem uma clara finalidade que não seja melhorar o conforto da nossa vida, valorizar o nosso tempo de ócio.


No holanda, o CV de vida é impressionante, têm o emprego e umas 14 actividades extra, 4 instrumentos que sabem tocar, 4 desportos que aprenderam a praticar, mais não sei quantas regras de vida, tudo para impressionar, mas não impressionada nada, tal como os amigos, categoria na qual me orgulho dizer que tenho poucos e que desconfio de quem diz ter muitos, (pois há amigos e amigos...), hábitos e passatempos também nos definem, não importa ter muitos, não importa fazer muito, importa que tudo o que se faça nos tenha como objectivo final e não a imagem que transmitimos a outros (e nem sequer a imagem que transmitimos a nós mesmos).


O destino da vida de uns será certamente, mais digno de cartaz publicitário que o destino de vida de outros. Mas a felicidade pode espreitar a conduzir um taxi no Sri-Lanka ou a viver numa pent-house em Manhattan, quem falha, é quem não perde tempo a descobrir-se, a enriquecer a sua alma, e ela é uma "gaija" complicada. Pede das coisas mais estranhas e diz-nos para abandonar as coisas mais bonitas, mas há alguém por quem valha mais a pena fazer sacrificios? O que me parece é que não basta viver não fazendo aquilo que a nossa alma nos impede de fazer, temos de a procurar, perder tempo percebendo quem ela é e o que ela quer, só assim poderemos ser honestos com ela.


Os meus próximos dois posts serão dedicados à alma.

Wednesday, July 11, 2007



Festa na Aldeia


banda sonora: Beirut - Elephant gun


Complicado sair hoje de casa, quero comprar um pacote de leite, mas há festa na aldeia. As festas locais em Leiden lembram-me invariavelmente as festas da aldeia dos meus avós. Na loja de conveniencia, aquela que não fechou mais cedo por ser dia de festa e que, naturalmente, pertence não a um Holandês mas a um Árabe, o negócio corre bem, fazem fila as pessoas, lá me coloca civicamente no meu lugar. À minha frente, dois excelentes especimens da geração McDonald's. White trash que, na holanda é tudo menos white. baggy trousers, correntes fatelas, cortes de cabelo radicais e emanam o seu "não ter nada que fazer". O futuro para eles, é risonho, claro que é, estamos na Holanda, é difícil estragar tudo num país como este, mas é violento, a violência urbana é uma forma de comunicação para eles, acelerar nas scooters serve apenas para esconder as enormes horas de ócio, e lá vão eles, todos felizes, não têm mais que catorze anos e demoraram algum tempo a decidir qual a caixa de preservativos a comprar. Aceleram agora nas scooters, hoje, em Leiden, há festa na aldeia.


enfermidades


banda sonora: Stereo Total - Relax Baby be cool


Detesto estar doente, ainda para mais com uma pequena constipação, nem um pouco de febre para legitimizar o queixume. Aqui a pensar, enquanto faço um chá com três camisolas vestidas que, se morrer, notarão pelo fedor e apenas então me descobrem. Que curiosamente olharão para o meu frigorifico a tentar descobrir algo sobre a pessoa que fui.

Se calhar ainda teria salvação, não da morte, essa é em si uma salvação, mas de uma doença. Internado num hospital e a cara do médico para as enfermeiras: "deviamos por um pouco de música para o ajudar, faria bem, mas que raio de música é que este gostaria de ouvir?" a resposta ninguém sabe, nem aqui nem em Lisboa nem em qualquer pedaço deste planeta.

Que livros me seriam lidos à cabeceira da cama?

Que se lixe tudo isso, "happy thoughts, happy thoughts", ajudam a melhorar de certeza, há que ter happy thoughts

Friday, July 06, 2007


John McTiernan


banda sonora: Rolling Stones - Paint it Black


Ok, ok, ando na rua e olho para os cartazes de cinema. Melhor, decido esperar por ir a Lisboa, valerá a pena. Porquê o nervosismo? Bom, anda por aí o Die Hard 4.

Será bom? Será péssimo? Será o que melhor se consegue fazer dentro do orçamento que não vá defraudar totalmente as expectativas? Já lá vão uns 20 anos desde o primeiro Die Hard e desafio alguém a dizer-me que prefere um Stallone vitima de culturismo desenfreado a um Bruce Willis que na minha infância sempre cheirara a "modelo e detective" e que se farta de "levar uma tareia" sabendo à partida que ninguém lhe pagará horas extraordinárias?


O meu problema, além da enorme expectativa (ainda que tenha aprendido a viver com este tipo de desilusões em regressos aos ecrãns de outros heróis), é o John Mctiernan. Não consigo deixar de me sentar de lado na cadeira de cinema com um pouco de medo do que ele vai fazer. Certo, fez o Die Hard 1 e tentou resgatar no 3 depois do desastroso Die Hard 2. O remake do Thomas Crown Affair também não estava mau de todo, (ou era a Rene Russo que estava fantástica? pode ser, já não me lembro bem), o Predador e o maravilhoso "caça ao outubro Vermelho" onde aparece o melhor Jack Ryan para mim e não graças ao Alec Baldwin. Por tudo isto, devia confiar cegamente no homem, mas não posso esquecer que também fez o Basic o Nomads, o 13º guerreiro e o remake do Rollerball (ainda que não tenha caído na esparrela de ver este, endeuso em demasia o original).


Enfim, eu nem sei porque falo disto, porque estou farto de saber que este dilema na minha mente não é um dilema, vou comprar um bilhete, vou-me sentar e esperar pelo melhor... Yipee-kayey, Mctiernan

Wednesday, July 04, 2007



banda sonora: Suede (The London) - Trash (going through the old stuff closet, I know, but some songs will remain forever) Disponível na playlist do lado direito, blá,blá,blá...e em muitas memórias.

Almocei com a Galina hoje, sim, na holanda há pessoas chamadas galina e moinhos e canais e papoilas, e ela dizia que se morresse hoje não temia nada do que descobrissem em sua casa, que não sentia que tivesse segredos mas que vivia surpreendida com a ideia de que muita gente os terá.
Jamais direi que essas pessoas não existem, mas não acho que sejam assim tantas. Ou se calhar não me interessam tanto, não são os heróis dos meus romances nunca escritos.

Em que ponto está a humanidade na sua busca de heróis? O quotidiano dá-nos milhares de exemplos todos os dias de verdadeiros heróis, a arte já os encontrou há algum tempo, abandonado o vencedor à imagem de um deus grego (que não Apolo, esse continua invariavelmente ligado à homosexualidade, na literatura especialmente). O cinema dá-nos psicopáticos assassinos com cajas pintadas a graffiti e acho que por vezes sentimos que vivemos nesse mundo. Não o meu herói, aquele que vive com naturalidade um vida de T2 com alguma, às vezes bastante, solidão. Um herói que desenrasca uma omolete e um bife, tem mulher-a-dias para fazer umas limpezas e que por vezes faz sopa, que usa mais vezes o micro-ondas e se senta com o prato aquecido na cozinha, esse Homem, esse grande Homem representado em milhares de homens e mulheres no mundo. Ergue-te, pois para mim e certamente muitos outros, és um herói. Invencível apenas nos números.

Blogar


banda sonora: Clap your Hands Say Yeah! - Is this love?

Há um prazer em blogar, um sentimento de publicação. Falar sozinho sem se sentir que se está a ficar maluco, sentimentos de felicidade que não se atrevem a partilhar (o primeiro que nunca tenha acordado com uma enorme vontade de gritar algo a todo o mundo que o faz feliz mas que prefere não possa partilhar que levante a mão).




Não sei bem onde isto vai, raramente sei onde os meus posts vão terminar quando os começo para ser honesto, o que em parte justifica a má qualidade de tantos, mas o que há a descrever, é um diário publicado, é a privacidade do nosso computador quando escrevemos juntamente com a dignificação da livre acessibilidade ao seu conteúdo por quem estiver interessado. Sentir que alguém pode estar interessado deverá chegar, e para mim chega.




Por outro lado tenho de admitir que a fusão da realidade com a virtualidade me preocupa um pouco. Não a fusão, mas a falta de sensatez dos dois extremos, das mais vulneráveis das pessoas às praticamente invulneráveis empresas no que respeita ao social. Dos tempos menos bonitos ideologicamente que actualmente se vivem aos escapes de second life. Ainda não me decidi se uma felicidade virtual, quando credível, pode substituir uma infelicidade real. Equiparar os dois conceitos, de real e virtual, é assumir que uma infelicidade virtual pode conduzir a uma absurda infelicidade real, não posso concordar com a validade da proposição, ou como uma consequência assumida socialmente.

Saturday, June 30, 2007


Pato Bravo

banda sonora - Ratatat - Seventeen Years

A Polícia Judiciaria fez uma operação que visou apurar milhões de euros em fuga fiscal por parte de empresas de construção civil. Mas no meio disto tudo, há algo preocupante. A operação, segundo a PJ, chamou-se "Operação Pato Bravo", o que, como é conhecimento geral, é uma expressão de calão, de tom negativo, utilizada precisamente para a classe dos construtores civis.


Este gosto (ou falta dele) na escolha das operações devia claramente ser pensado. Numa sociedade de informação como a nossa, onde nos arriscamos tanto a um sentimento punitivo geral e onde a condenação não é feita por tribunais que demoram anos a decidir, mas por jornalistas que julgam tudo poder e saber (dos quatro poderes há algum que, actualmente, funcione tão rapidamente como o quarto poder em emitir irresponsáveis juízos de culpabilidade) onde uma mera acusação é quase uma sentença de culpabilidade a nossa querida Polícia parece não resistir a colocar algum escárnio julgador na sua actuação.


É pena, pois os construtores civis continuarão a ser vistos da mesma maneira pela sociedade (que também não os vê muito bem de qualquer maneira), quem perde com este tipo de decisões é a própria PJ, a qual se revela vulnerável ao ressentimento, ao insulto, ao mau gosto. Como pode uma polícia assim ser levada em conta como parte da soberania nacional? Quem quer ser respeitado tem de fazer o mínimo para o merecer.


Parece que se aplica a velha máxima, da Teresa que andava na escola primária comigo que me apontava o dedo e dizia "...quem chama é quem é, quem chama é quem é..."

Sunday, June 24, 2007

Master of my faith, Captain of my Soul

Banda sonora: The Clash - Career Opportunities

B. acorda de manhã, uma nova era começa. Olhando para o relógio sabe que tem tempo suficiente. Mais do que suficiente conclui, enquanto toma o pequeno-almoço fixado no texto do pacote de cereais que ele sabe de cor, mas de manhã ajuda a não pensar. Entretem-se a fazer contas matemáticas. Barbear e Banho x minutos, vestir y minutos. O tempo é mais do que suficiente, conclui.

Escolhe o fato, não pode ser qualquer fato, hoje é um dia especial, é o seu primeiro dia no novo emprego. Procura um relógio, o melhor. Deixado pelo avô quando morreu, tem saudades do avô no qual pensa sempre que usa o relógio, mas usa o relógio sem qualquer sentimento de culpa ou remorso. Um avô não é um pai, aceita-se melhor. Procura a gravata, a tal gravata, aquela que não poderá sujar ao almoço, nada de sopas ou ensopados, foi cara esta mas fica muito bem com aquela camisa. Onde está a camisa? Oh não, será que a usou? Não, estava um pouco mais à esquerda no armário do sítio onde a costuma deixar. Veste-se, hoje, de um forma algo ritualizada, como se fosse a sua armadura em vespera de batalha. Há que causar boa impressão ao novo chefe. Os adereços entram no fim, o relógio a caneta a carteira, olha ao espelho e procura um sorriso confiante. Não há, isso é só nos filmes. Sai de casa depois de localizar as chaves de casa e do carro, estão no sítio do costume. Quando chega cá fora lembra-se, hoje é o seu primeiro dia da sua vida em que é desempregado.


Cansou, né?

banda sonora: Hefner - Repression Song

Estou cansado! Declaração egoísta e irrelevante aos outros. Apetece-me atirar o portátil pela janela, mas não posso. O facto de viver ao nível da rua tira o ar dramático da coisa e o facto de precisar do meu portátil tira qualquer remanescente vontade de o fazer. Mas apetece-me atirar o portátil pela janela fora porque estou farto dele. Estou farto dele porque o tenho usado sem descanso. Tenho-o usado sem descanso porque preciso dele e por isso, não o posso atirar pela janela. Pequeno puzzle.

Estou cansado de fazer um trabalho que é aborrecido, que trata de Direito Espacial e quando o tempo está a passar para poder começar a minha tese em paz e sossego. Quero trabalhar em exclusivo na tese, mas não posso. Trabalho devagar, mas não me consigo despachar sem ter real vontade de cortar os pulsos. Leiden, a minha Sabrosa Holandesa, continua na mesma. Por vezes, um palco montado numa das praças com uma banda popular holandesa que merecia ser atirada ao canal mais próximo. Atados aos instrumentos de preferência.

P.S. Quanto mais leio sobre ela, mais temo pela Lua. Quanto mais sei sobre ela, menos encantadora me parece quando a vejo à noite. Depois sinto a mão de Cássio sobre o meu ombro, a minha peça favorita passa-se na minha mente e tranquilizo-me: "The fault, dear Brutus, lies not in the stars but upon ourselves".

Pedalo tranquilamente para casa, a aplicação do "precautionary principle" à exploração espacial espera-me. No meu portátil claro está.

Thursday, June 21, 2007


Inland Empire - existência, essência.

banda sonora: Fat Truckers - Superbike (disponível na playlist)

Quando era miúdo sempre pensei que a existência linear era algo muito porreiro. Sem ela, nem sequer poderia jogar, ou ver, futebol.

Não sei ao certo onde acaba a Mulholland Drive. Nem sei ao certo onde começa, já agora. Certamente em Hollywood começará, (ou acabará... whatever...). Não sei ao certo qual a fronteira de Inland Empire. Será no seguimento de Los Angeles. Também não sei porque é que Lynch decidiu, a determinado ponto, que os seus filmes deveriam ter um título com sentido geográfico. Se calhar não decidiu. Mas que Inland Empire me parece a um passo de Mulholland Drive parece. yo no digo que lo sea, pero que sí, que parece!.

Quem procurar uma crítica cinematográfica decente, não a encontra aqui. Não sou crítico profissional. Sou jurista e daí este parágrafo me cheirar a "disclaimer", e "disclaimers" cheiram mal, por isso há que acabar o parágrafo imediatamente.

A porra do filme é uma montanha russa de três horas. Montanhas Russas são fascinantes pela sensação de perigo que transmitem sem se correr realmente algum perigo. Para mim, aquelas três horas (bom, descontando os minutos em Polaco legendados em Holandês em que apenas me sentei na cadeira reconfortando-me pensando que não eram aqueles diálogos que me explicariam o filme), foram um perigar da minha existência linear, dos simples conceitos de espaço e tempo, de um filme sobre um filme amaldiçoado (e até que ponto são dois filmes diferentes) pois a maldição é a eterna confusão de paralelos, existências trocadas, um perder dos sentidos mais inerentes à existência humana que é sabermos onde estamos e em que momento.

É uma continuação do Mulholland Drive, é um passo em frente, é um pouco à frente na estrada seguindo as poderosas auto-estradas de L.A., é a mesclagem total de filmes sobre filmes sobre espectadores sobre filmes sobre ontem sobre amanhã sobre salas que se repetem num espaço contínuo, um salto de trapézio sem ninguém do outro lado que segure e a queda, a queda nunca mais acaba, pois não há tempo ou distância que a controle. Não percebo quem odeia o filme e à saída diz que não percebeu. (de novo visito na memória o momento em que saí do Mulholland drive, insatisfações iguais, na altura em Madrid, desta vez em Haia). Porquê tanta raiva de não perceber um filme quando não oiço comentários raivosos contra a nossa existência por não compreender a sua essência?

Adorei o filme...acho! Sei lá por que universos andei.

Monday, June 18, 2007


Chuva


banda sonora: Pink Martini - La soledad (disponível na playlist à direita)


Bate leve levemente, como quem chama por mim,


Será chuva será gente, chuva não é certam...


hey! claro que é chuva! Afinal, estou na Holanda e há mais de uma semana que chove todos os dias.


Ainda bem que o inverno acabou, que o frio se foi. Agora, fica apenas a certeza de que sair de casa sem um chapéu de chuva é um erro, que um passeio no parque só pode ser concluido com um sentar na relva se levarmos um saco de plástico pois a relva está sempre molhada.


Aqui não há dança das estações, há uma valsa de todas as formas gramaticais e lexicais possíveis para definir mau tempo. Nos meses que cá passei, os quais nem quero contar, já tive vento, frio, chuva, neve, tempestades e trovoadas. Agora olho lá para fora e enquanto oiço o som da chuva nas janelas e no chão não consigo deixar de me sentir melancólico.

Thursday, June 14, 2007



Vilar de Mouros

Ao menos que este blog sirva como muro, não de lamentações, mas de protesto, de palavras bradadas! Se ninguém lê, serve para não morrer de cancro, que reprimir faz cancro.

Li hoje no jornal "O Público" que o festival de Vilar de Mouros deste ano foi cancelado.


Depois vou ver o jornal desportivo, onde mais uma vez o Porto e o Benfica andam atrás dos mesmos 3 ou 4 jogadores como se não houvesse mais do que 30 futebolistas no mundo inteiro para todos os clubes do mundo.

O que é que uma noticia em a ver com a outra?
Para mim, sempre o mesmo estúpido problema da mentalidade.
Falemos do festival. O festival será cancelado por falta de apoio da câmara, a falta de apoio resulta de conflitos entre a câmara (PSD) e a junta de freguesia (CDU) originados já na discussão do traçado da A28.
Ora, de "trincas" e "guerras" perdem todos os outros, a câmara e a junta podem ter diferendos, mas podem também coordenar a realização de um festival que ajuda ambas. Assim, perde a junta, perde a Câmara, perdemos todos que ficamos sem festival.
Esta incapacidade de deixar os diferendos de lado para realizar um bem comum é um lástima constante em Portugal, mostra relações institucionais "de criança" entre dois órgãos políticos eleitos e deixa-nos a desejar que seja realizado um festival a poucos kilómetros, do lado Espanhol da fronteira. Depois vem o choradinho, sem qualquer admissão de culpa e sem perceber como pode tal coisa ter acontecido.
Imagine-se a secretária do Presidente da Câmara, um dossier chamado Vilar de Mouros, e o Presidente coloca um "x" no topo só por culpa de um outro dossier. Se calhar até acha que é uma forma de pressão (infelizmente, nem acredito que seja um problema de cores políticas porque já ninguém é ninguém neste país), mas não acredito que seja tão cego ao ponto de não reconhecer que também se prejudica. Cooperar em certas áreas com uma junta enquanto existem diferendos noutra área não é hipocrisia, é governar. Ou alguma empresa deixa de vender a um cliente mensal porque uma factura com dois anos anda em diferendo entre as partes?

Igual com o futebol, onde a luta pelos mesmos jogadores aproveita apenas aos agentes, que veem as propostas inflaccionar com um aceno ao clube rival do jogador pretendido por um, depois é só esperar pelo outro e esfregar as mãos de contente, como a Raposa as esfrega sempre que vê um parvo ao pé do poço, e toda a gente sabe como nós gostamos de ser parvos.

Wednesday, June 13, 2007


Otário - (masc. sing. adj.), termo de gíria aquele que defende a localização da Ota para o novo Aeroporto de Lisboa,

(Zool.) ontário; género de Crustáceo.

banda sonora: Pink Martini - Je ne veux pas travailler

Não queria falar da Ota. Mas vou falar da Ota. O que tenho a dizer da Ota, já o disse várias vezes, por isso vou apenas preocupar-me com o défice de discussão em redor do tema. Sim, é possível que alguém ache existir um défice de discussão sobre a Ota, não porque não tenha já muito sido dito e escrito sobre o novo Aeroporto. Até acho que já está tudo farto disso, apenas, por culpa dos media que não fizeram o seu trabalho de casa ou por culpa dos políticos Portugueses que continuam a preferir reiterar discursos demagógicos sobre a real discussão dos temas ou mesmo, em último caso, de um público que permite este estado das coisas (pois todo os poderes, desde os três de Montesquieu ao quarto poder da imprensa têm como base de poder uma sociedade que permite esta atitude).

Preocupo-me pois com um novo Aeroporto de que ninguém fala, ou que apenas se fala da quantidade de sobreiros ou pinheiros que serão abatidos, acusados de desconfiança ouvem-se a meia voz sobre quem fará dinheiro fácil com os terrenos na Ota ou na margem sul (e já agora, porque é que ninguém se pergunta sobre quem vai lucrar com os terrenos do actual Aeroporto da Portela?), deixando as questões referentes à politica de aviação nacional na gaveta.

Ok, alguém vai ganhar dinheiro em especulação imobiliária, mas isso já sabemos nem outra coisa podemos esperar num país onde cada metro quadrado serve para construção urbanisticamente mal planeada. Que arquitectos fazem concorrência a Solicitadores no jogo de favores de departamentos urbanísticos em Portugal não é mistério, mas a construção de um novo Aeroporto deve levantar questões na sociedade Portuguesa bem mais específicas que o simples erguer do betão.

Por exemplo, qual é o aumento real de capacidade do Aeroporto da Ota relativamente ao Aeroporto da Portela? Mantendo duas pistas e meia duzia mais de terminais depressa ficará lotado, há realmente capacidade de expansão? Por outro lado, Aeroportos servem para servir companhias aéreas numa industria conhecida por ser cíclica, podemos prever que o aumento de tráfego no Aeroporto se mantenha a crescer continuamente nos próximos anos? Quais as previsões da Industria Aeronáutica para Lisboa, e da TAP a qual "é voluntariada" pelo Governo para assumir a posição de transportadora dominante no novo Aeroporto?

Outra questão que me preocupa é o financiamento do projecto. Quando a Ota foi aprovada foi definida uma forma de financiamento semelhante à usada no novo Aeroporto de Atenas. O problema é que a Olympic Airways faliu precisamente por ter sido "voluntariada" pelo Governo para assumir uma posição de transportadora dominante naquele Aeroporto. O paralelismo entre o caso da Olympic e da TAP assusta-me quanto ao futuro desta última.

A qual será privatizada e "enfiada" no novo Aeroporto. Esperemos ao menos que o projecto de "dar lugar a low-costs" na Portela haja sido abandonada. Quem papagueia tal solução deveria pensar no que diz e fazer um "reality check", mas por acaso a TAP conseguiria competir em voos para Lisboa contra low-costs a pagar menos para voar para o centro de Lisboa em vez de aterrar a 50 kilometros? (ou 60, ou 40, a questão é a mesma). Não há problema, o rei passeia-se pela rua enchendo os bobos a boca com guizos e gritos de "hub". Pois, "hub", voos de sexta liberdade a passar pela Ota. Curiosamente as operações "Hub and Spoke" estão em declinio para transportadoras nacionais pequenas e médias. Mas isso descobriremos daqui a uns anos, da pior maneira.
Daqui passamos do Aeroporto para a TAP: Que tipo de privatização? Investidores nacionais ou comunitários? Tem a revisão de Acordos de Serviços Aéreos sido feita ou preparada pelo Governo Português para enfrentar essa realidade?


O governo Português, o qual é proprietário de todos os Aeroportos Portugueses e de todas as transportadoras regulares Portuguesas tem um plano forte de privatização englobando a ANA e a TAP, mas os contornos não são conhecidos e, pior ainda, não são discutidos em praça pública. Mais assustador é pensar que o regime de todo um sector industrial Português vai ser revolucionado e os títulos dos jornais falam da mais-valia dos terrenos dos Aeroportos. Somos mesmo um país de betão.

Monday, June 11, 2007



Patti Smith said Goodbye


Banda sonora: Doves - There goes the fear


Alguma saudade levarei comigo de Leiden. (Não fosse, como Português, um ser condenado à saudade de todos os sítios que ficam para trás). Terei saudade de, como disse um dia o Pedro: "ir para casa e levar uma holandesa no banco de trás da bicicleta".

De qualquer forma, às vezes penso naqueles sítios onde vamos uma vez na vida e onde pensamos nunca voltar para depois, repetidamente, lá irmos. Tornam-se parte da nossa vida e temos de os repetir vezes e vezes sem conta, sempre contrariados. Como eu espero que Leiden não seja assim para mim.


P.S. Ontem era o concerto da Patti Smith, só soube há três dias e por isso já estava esgotado, au revoir my darling. Um dia destes encontramo-nos, o Mapplethorpe não tinha nada que eu não tenha (coff,coff)

Saturday, May 19, 2007






Ban economic theory from your lives.


banda sonora: Aretha Franklin - Think (Aretha is available at the playlist on the right side)

"Once upon a time, there was a man who lived by the principle of profit maximisation. He had long realised that he needed hardly any sleep and could eat all meals in front of the computer screen; that most social contact was pointless. His marriage was long over, and he hadn’t seen his parents in 2 years. Once upon a time, there was a man who lived by the principle of pleasure maximisation. He had long realised that there was no point in pursuing success, since the time and effort invested did not match the results; that the people he met on the square were all the friends he needed. His wife had left him, and he hardly spoke to his parents. One day, Man 1 ran into Man 2 as he was hurrying across the square. For a brief moment, their eyes met, and scorn mixed with a twinge of envy. On the other side of the square, unnoticed by both men, a couple has just finished lunch in a small restaurant. They kissed good-bye and both returned to work."




by René, Anneloes, Kati and Andrews

Thursday, May 17, 2007



Recomendações musicais

banda sonora: Babe Roth - Mexican (available at the right side playlist)

Recomendações musicais são uma treta, são minhas e pronto. Por outras palavras, os albuns que, de seguida, decidi recomendar, estão aqui porque me apeteceu (um proverbial, "porque pronto!").

Porque é que são bons? Eu não sei se são bons, estão aqui porque nos últimos meses foram os albuns que mais gostei de ouvir. Um deles até é velhote e o outro do ano passado...é a vida, oiçam se quiserem, senão também não vale a pena

- "A plus tard, crocodile" dos Louise Attaque

- "Dreamt for Light Years In The Belly Of A Mountain" do Sparklehorse

- "Money for All" dos Nine Horses

Sunday, May 13, 2007




banda sonora - Johnny Cash - Personal Jesus (available at the blog playlist on the right side)

Bispo de Leiria-Fátima denuncia seitas católicas a "explorar generosidade dos fiéis"

13.05.2007 - Edição Online d' "O Público"

O bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, afirma que há seitas católicas e grupos esotéricos a "infiltrar-se" em Fátima para "explorar a generosidade económica dos fiéis".
Em entrevista publicada na edição de hoje do "Diário de Notícias", D. António Marto reconheceu que esses movimentos se "aproveitam" de um clima que "ainda não levanta suspeitas à polícia" para se infiltrarem."Há pessoas e movimentos que às vezes querem aproveitar-se de Fátima e do clima de acolhimento que aqui se vive. Trata-se de desvios, de levar para extremos determinadas devoções, de explorar os sentimentos das pessoas. De explorar a generosidade económica dos fiéis", afirmou.
Terá a Igreja Católica procedido à competente denúncia à Autoridade da Concorrência?
Lembro-me de ir a Fátima algumas vezes, ainda que esteja longe de praticar qualquer forma de religião ou de ritual na minha vida (descontando o ritual do banho matinal, da saída à noite no fim-de-semana, etc,etc,etc...), curiosamente sempre achei aquilo uma exploração religiosa da generosidade económica (e não só) dos fiéis. O problema então, será quando feita por outras seitas, o que até é compreensível, a I.U.R.D. ficaria chateada se a Igreja Católica aproveitasse as celebrações para cobrar dízimo para a paróquia mais próxima (ou para pagar o bifito no Império ao padre), de facto, há que estabelecer territórios para estas coisas de fiéis e dádivas, senão ainda temos guerra de gangs.

Thursday, May 10, 2007

Wearing the Veils
banda sonora: The Veils - Pan

Hoje vesti a minha t-shirt dos "the Veils" mais uns "the". (Lembrou-me que o Eiró esteve cá este fim-de-semana e que foi óptimo vê-lo). Chove lá fora, chove há dias. As duas semanas em que esteve sol fez-me, de novo, falar cedo demais. Perdi tempo a elogiar a forma fantástica como os holandeses se transformaram em pessoas felizes a saborear o sol pois, como bom Português, um sol que aparece em Maio é um inverno que se vai embora. Pois, falei cedo demais, o mau tempo voltou, é ainda mais horrivel sair de casa agora quando penso que já houve dias bons, bons dias para andar de bicicleta e ver pessoas sorridentes. Eles não estavam a viver a vida, estavam a viver um pouco de sol que tentam aproveitar com tudo o que podem. Gosh... que clima horrivel. O pouco prazer que retiram é de uma "nouvelle vague hope". Dizem que com o aquecimento global daqui a 50 anos terão clima mediterrânico, errado, daqui a 50 anos metade do país afundará. Falo do fundo de tristeza que é estar farto deste tempo, da frustração que foi ter tido sol que cedo foi embora. A minha pedra de Sísifo acabou de rolar colina abaixo.



O Nosso herói, afinal, é uma lagosta
banda sonora: the B-52's - Rock Lobster
"Iniciando a leitura d'"O elogio do fracasso", quero partilhar convosco a dor que é ler isto. O primeiro parágrafo descreve sapateiras e lagostas amontoadas como calhaus de algum templo havaiano, a metáfora é, tal como o resto do capítulo e suspeito o livro, fraca e com um sentido de visualização reduzido. Primeiro a religião predominante do Havai é, como todos sabemos, o cristianismo, por isso o templo não deverá ser muito diferente do normal e depois...porquê um templo havaiano?

A primeira intervenção do nosso herói é em direcção ao empregado – "leve sorriso cruzado de esgar" – e depois o pensamento completo de sorriso de quem "não está disposto a dar-lhe trela para prosseguir com uma longa palestra sobre psicologia crustácea". Bom, assim que o nosso narrador cria toda uma imagem de aquário de restaurante, para onde o nosso herói olha fixado para, no primeiro momento possivel, sacrificar e criticar o empregado como sendo aborrecido. Bom é verdade que falar de sapateiras e lavagantes é aborrecido, mas quem começou foi ele, fixado como parvo a olhar para o aquário.

As primeiras páginas, passadas num restaurante "A pérola de Cacilhas", são dedicadas ao contexto social do herói, aparentemente é uma daquelas familias que vai almoçar fora aos domingos enquanto se vê à rasca para pagar a quinta prestação do renault 5, o almoço de domingos é o que prende o herói à familia, (será um sagrado ritual de templo cacilhence?) e o domingo é descrito como "a Guernica de beatas retorcidas despenhadas no cinzeiro sob os narizes enjoados de frituras vaporosas" (mas alguém me explica o que são narizes enjoados de frituras vaporosas?).

A primeira conversa com os pais, não tem qualquer densidade psicológica, respostas evasivas a perguntas inocentes da mãe sem qualquer desenvolvimento da personagem sobre o conforto com que enfrenta o seu contexto familiar. No fim da pequena conversa, a conclusão. "todos somos crustáceos" (temo que o autor esteja a ser autobiográfico com a sua familia nesta afirmação).

De repente os nomes, a mãe chama-se matilde, o nosso herói, infelizmente, Francisco. . Depois de tentar pagar o jantar ao pai (é estagiário, vive sozinho, paga almoços à familia, não está mal de finanças este estagiário), vive na calçada da Ajuda.

Aqui, vem o pior do capítulo, a Paula. Todas as personagens que até agora apareceram são estereotipadas, o que não seria chocante se não fossem desprovidas de sabor, a Paula tem a idade do herói, fuma no templo budista por baixo do apartamento dele, é casada com um idiota qualquer que passa a vida em viagens de negócios e, obviamente, tem um romance quente com o nosso herói, cruzar-se com ela era "o meu momento zen do dia".

Uma frase, tenho de vos deixar, bem sei que isto vai ficando grande mas é mau demais para não citar "Depressa nos tornámos amantes. Alguma lei natural o impunha, provavelmente a mesma que faz dois besouros caídos numa poça de chuva agarrarem-se mutuamente, como se isso os impedisse de afundar" . O homem devia era ter citado no inicio do livro a introdução do dto. da concorrência do Ascensão.

Obviamente a Paula fica caídinha por ele enquanto o valente herói (recuso aceitar que se chame Francisco) a despreza e quer acabar com ela. Em conclusão, as personagens são nulas em densidade psicológica, e ridiculamente estereótipadas. A secundaridade das personagens roça a irrelevância perante o herói brilhantemente iluminado, de forma a livrar-se delas, atribui-lhes tarefas mecânicas sem relevância (A irmã passa a vida a brincar ao telemóvel – a horrenda e super-acutilante critica social a gerações mais novas - , os pais são "white trash", a Paula amante roça o ridiculo enquanto personagem). Poucas pistas são dadas quanto ao herói e em si contraditórias, identifica-se com os pais e sente-se motivado a manter-se na conversa de mesa após almoço, curiosamente, mantem uma critica ao contexto social com o qual não quebrou laços, de onde só podemos concluir que ele julga-se melhor que eles e mantém um horrível cinismo com a familia. Contudo nada disto transparece do texto. A figura de estilo que, infelizmente, abunda, é a metáfora mas para nosso azar os comparantes escolhidos são rebuscadamente fracos e muitas vezes, a semelhança induzida entre os dois elementos é parca ou inexistente. Não raro, não vai além da comparação ou longos e aborrecidos exemplos.

Momento do capítulo: "Aquele ritual de conchas escarlates roçando num compasso dorido parecia de facto um acto de compaixão, uma dança derradeira de consolo para a [caranguejola] recém-chegada, em que todos carpiam um destino comum e encomendavam as almas ao deus das criaturas moles encalhadas em casquinhas, aspirantes a copiosas parrilladas".

Tuesday, May 08, 2007

O elogio do Fracasso – Início do fracasso

Ora bem, eu sei que prometi a alguns chegados amigos que, em virtude do meu horário totalmente académico, perderia tempo da minha vida a, entre fotocópias de artigos de Direito Aéreo, ler o livro do João Freire. Um misto de samaritanismo com masoquisto e, obviamente, ter o prazer de desperdiçar tempo. Algo que não durará muito tempo.
Contudo, demorei a começar. A culpa não é minha, ou melhor, é, pois tenho o hábito de folhear um livro antes de o começar a ler e cada parágrafo que lia quando abria o livro ao calhas deixava-me um sentimento amargo. Que má quimera em que me deixei arrastar. Não preciso acabar o livro para dizer que, em circunstâncias normais, nunca me daria ao trabalho de ler isto. Como as circunstâncias não são normais, releguei-o a livro de casa-de-banho (para não usar um termo mais escatológico que rime com “livro de cabeceira”) e, cheio de sentimento que as selecções do Readers Digest não serão muito melhores e mesmo assim enchem casas de banho pelo país fora, decidi começar.
Ora parabéns à Dia ao Nuno e à Helena, todos eles são alvos de dedicatória pela inspiração coragem e, finalmente, à Helena por ser a Helena. Ok! Assim que se tudo correr mal não há problema, ele inspirou-se na Dia. (Será ela a famosa advogada apalpada com quem sou suposto cruzar-me no livro?). Página virada, um mundo enorme de chavões que me ocuparão o resto do mail. Em primeiro lugar, Allen Ginsberg com o ínicio do “Howl”. Curiosa escolha, tal como o índice num livro técnico, as citações que são escolhidas pelo autor são sempre um passo importante do livro. Será que o escolheu por ser da beat? Por quase ser comunista (o que está em voga nas gerações novas e estará até ao dia em que tiverem de perder o sentido de propriedade) ou, temo, pelo facto do Ginsberg ser pedófilo? (há claro, a ideia de que haverá um suculento capítulo sobre escalas no DIAP e como as melhores mentes da nossa geração se encontram perdidas na droga)
A segunda citação parece responder à questão anterior, é de uma letra dos Doors e diz: “We need someone or something new/something to get us through”. Não sei o que acham, mas a mim claramente apoia a ideia da pedofilia.
Finalmente, como se o que vem antes não nos tivesse já enchido com a frustração do autor que até este momento não escreveu nada, recebemos uma selecção do Sutra do coração. Ora, seleccionar pedaços de um sutra é algo sempre complicado ou pelo menos, não é exactamente igual a seleccionar um parágrafo da biblia, curiosamente ele fica-se pela ideia geral, “a forma não é senão o vazio, /O vazio não é senão a forma”. Devo dizer que “isto” deixa-me curioso. Foi seleccionar um Sutra que tão fortemente ataca as quatro verdades budistas e encara a Realidade de uma forma tão pouco conceptualizada. Em conclusão, parece que se encontra aqui uma primeira pista sobre o que é o “elogio do fracasso”, descontando o simples sarcasmo do título, o fracasso revela-se ao leitor da primeira página, ele vai falar do fracasso de encontrar a realidade. É, este dharma irritante lixa-nos a todos. Daí o sorriso idiota do autor que acompanha o texto de introdução.
Ao menos as espectativas caíram até um fundo de onde não podem sair, penso que isto me ajudará a ler o livro e contar-vos a história do fracasso do João Freire.