Wednesday, June 13, 2007


Otário - (masc. sing. adj.), termo de gíria aquele que defende a localização da Ota para o novo Aeroporto de Lisboa,

(Zool.) ontário; género de Crustáceo.

banda sonora: Pink Martini - Je ne veux pas travailler

Não queria falar da Ota. Mas vou falar da Ota. O que tenho a dizer da Ota, já o disse várias vezes, por isso vou apenas preocupar-me com o défice de discussão em redor do tema. Sim, é possível que alguém ache existir um défice de discussão sobre a Ota, não porque não tenha já muito sido dito e escrito sobre o novo Aeroporto. Até acho que já está tudo farto disso, apenas, por culpa dos media que não fizeram o seu trabalho de casa ou por culpa dos políticos Portugueses que continuam a preferir reiterar discursos demagógicos sobre a real discussão dos temas ou mesmo, em último caso, de um público que permite este estado das coisas (pois todo os poderes, desde os três de Montesquieu ao quarto poder da imprensa têm como base de poder uma sociedade que permite esta atitude).

Preocupo-me pois com um novo Aeroporto de que ninguém fala, ou que apenas se fala da quantidade de sobreiros ou pinheiros que serão abatidos, acusados de desconfiança ouvem-se a meia voz sobre quem fará dinheiro fácil com os terrenos na Ota ou na margem sul (e já agora, porque é que ninguém se pergunta sobre quem vai lucrar com os terrenos do actual Aeroporto da Portela?), deixando as questões referentes à politica de aviação nacional na gaveta.

Ok, alguém vai ganhar dinheiro em especulação imobiliária, mas isso já sabemos nem outra coisa podemos esperar num país onde cada metro quadrado serve para construção urbanisticamente mal planeada. Que arquitectos fazem concorrência a Solicitadores no jogo de favores de departamentos urbanísticos em Portugal não é mistério, mas a construção de um novo Aeroporto deve levantar questões na sociedade Portuguesa bem mais específicas que o simples erguer do betão.

Por exemplo, qual é o aumento real de capacidade do Aeroporto da Ota relativamente ao Aeroporto da Portela? Mantendo duas pistas e meia duzia mais de terminais depressa ficará lotado, há realmente capacidade de expansão? Por outro lado, Aeroportos servem para servir companhias aéreas numa industria conhecida por ser cíclica, podemos prever que o aumento de tráfego no Aeroporto se mantenha a crescer continuamente nos próximos anos? Quais as previsões da Industria Aeronáutica para Lisboa, e da TAP a qual "é voluntariada" pelo Governo para assumir a posição de transportadora dominante no novo Aeroporto?

Outra questão que me preocupa é o financiamento do projecto. Quando a Ota foi aprovada foi definida uma forma de financiamento semelhante à usada no novo Aeroporto de Atenas. O problema é que a Olympic Airways faliu precisamente por ter sido "voluntariada" pelo Governo para assumir uma posição de transportadora dominante naquele Aeroporto. O paralelismo entre o caso da Olympic e da TAP assusta-me quanto ao futuro desta última.

A qual será privatizada e "enfiada" no novo Aeroporto. Esperemos ao menos que o projecto de "dar lugar a low-costs" na Portela haja sido abandonada. Quem papagueia tal solução deveria pensar no que diz e fazer um "reality check", mas por acaso a TAP conseguiria competir em voos para Lisboa contra low-costs a pagar menos para voar para o centro de Lisboa em vez de aterrar a 50 kilometros? (ou 60, ou 40, a questão é a mesma). Não há problema, o rei passeia-se pela rua enchendo os bobos a boca com guizos e gritos de "hub". Pois, "hub", voos de sexta liberdade a passar pela Ota. Curiosamente as operações "Hub and Spoke" estão em declinio para transportadoras nacionais pequenas e médias. Mas isso descobriremos daqui a uns anos, da pior maneira.
Daqui passamos do Aeroporto para a TAP: Que tipo de privatização? Investidores nacionais ou comunitários? Tem a revisão de Acordos de Serviços Aéreos sido feita ou preparada pelo Governo Português para enfrentar essa realidade?


O governo Português, o qual é proprietário de todos os Aeroportos Portugueses e de todas as transportadoras regulares Portuguesas tem um plano forte de privatização englobando a ANA e a TAP, mas os contornos não são conhecidos e, pior ainda, não são discutidos em praça pública. Mais assustador é pensar que o regime de todo um sector industrial Português vai ser revolucionado e os títulos dos jornais falam da mais-valia dos terrenos dos Aeroportos. Somos mesmo um país de betão.

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