Tuesday, May 08, 2007

O elogio do Fracasso – Início do fracasso

Ora bem, eu sei que prometi a alguns chegados amigos que, em virtude do meu horário totalmente académico, perderia tempo da minha vida a, entre fotocópias de artigos de Direito Aéreo, ler o livro do João Freire. Um misto de samaritanismo com masoquisto e, obviamente, ter o prazer de desperdiçar tempo. Algo que não durará muito tempo.
Contudo, demorei a começar. A culpa não é minha, ou melhor, é, pois tenho o hábito de folhear um livro antes de o começar a ler e cada parágrafo que lia quando abria o livro ao calhas deixava-me um sentimento amargo. Que má quimera em que me deixei arrastar. Não preciso acabar o livro para dizer que, em circunstâncias normais, nunca me daria ao trabalho de ler isto. Como as circunstâncias não são normais, releguei-o a livro de casa-de-banho (para não usar um termo mais escatológico que rime com “livro de cabeceira”) e, cheio de sentimento que as selecções do Readers Digest não serão muito melhores e mesmo assim enchem casas de banho pelo país fora, decidi começar.
Ora parabéns à Dia ao Nuno e à Helena, todos eles são alvos de dedicatória pela inspiração coragem e, finalmente, à Helena por ser a Helena. Ok! Assim que se tudo correr mal não há problema, ele inspirou-se na Dia. (Será ela a famosa advogada apalpada com quem sou suposto cruzar-me no livro?). Página virada, um mundo enorme de chavões que me ocuparão o resto do mail. Em primeiro lugar, Allen Ginsberg com o ínicio do “Howl”. Curiosa escolha, tal como o índice num livro técnico, as citações que são escolhidas pelo autor são sempre um passo importante do livro. Será que o escolheu por ser da beat? Por quase ser comunista (o que está em voga nas gerações novas e estará até ao dia em que tiverem de perder o sentido de propriedade) ou, temo, pelo facto do Ginsberg ser pedófilo? (há claro, a ideia de que haverá um suculento capítulo sobre escalas no DIAP e como as melhores mentes da nossa geração se encontram perdidas na droga)
A segunda citação parece responder à questão anterior, é de uma letra dos Doors e diz: “We need someone or something new/something to get us through”. Não sei o que acham, mas a mim claramente apoia a ideia da pedofilia.
Finalmente, como se o que vem antes não nos tivesse já enchido com a frustração do autor que até este momento não escreveu nada, recebemos uma selecção do Sutra do coração. Ora, seleccionar pedaços de um sutra é algo sempre complicado ou pelo menos, não é exactamente igual a seleccionar um parágrafo da biblia, curiosamente ele fica-se pela ideia geral, “a forma não é senão o vazio, /O vazio não é senão a forma”. Devo dizer que “isto” deixa-me curioso. Foi seleccionar um Sutra que tão fortemente ataca as quatro verdades budistas e encara a Realidade de uma forma tão pouco conceptualizada. Em conclusão, parece que se encontra aqui uma primeira pista sobre o que é o “elogio do fracasso”, descontando o simples sarcasmo do título, o fracasso revela-se ao leitor da primeira página, ele vai falar do fracasso de encontrar a realidade. É, este dharma irritante lixa-nos a todos. Daí o sorriso idiota do autor que acompanha o texto de introdução.
Ao menos as espectativas caíram até um fundo de onde não podem sair, penso que isto me ajudará a ler o livro e contar-vos a história do fracasso do João Freire.

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