Saturday, September 30, 2006


Caminhas pela cidade, evitas as bicicletas.
Sentar ao lado do planetário.
Sabe bem passear em Copenhaga
No meio das torres verdes e do design moderno.

Copenhaga



Estou em Copenhaga, por uma lado sentia uma vontade enorme de sair de Leiden e da opressão que sobre mim caia, (um dia aqueles canais vão-se revoltar e bicicletas choverão sobre os Holandeses) por outro, já tinha viagem preparada de qualquer maneira. Após as aulas saí directo para casa, hoje mal tive contacto com os restantes alunos da turma. O Jason e o Scott sempre juntos, o Kabera sempre sorridente. Aquele homem anima-me de certa forma com toda a tranquilidade que encerra dentro dele. Enfim, passando à frente, abandonei a aldeia (“The village” num tom muito identico ao “the shop” no League of Gentleman) e dez minutos depois estava no aeroporto. Comi qualquer coisa a correr pois estava bastante adiantado e, quando fui fazer o check-in constatei uma coisa maravilhosa. O meu voo foi cancelado. Assim, sem mais nem menos, em toda aquela confusão de companhias aéreas, códigos de voo, portas de embarque, balcões de check-in, um destacava-se pela sua informação simpática e seca: “cancelled”.

Permitam-me agora por a minha metralhadora de Chico Norris, e dizimar todos os malvados Schipolenses enquanto salvo o meu coiro e chego até Copenhaga, é urgente cumprir a missao pois, quero ir à conferencia, ficar será uma enorme batalha para obter toda a minha compensação e, acima de tudo, o João Semedo tem as minhas ajudas de custo. Por isso, vou agora gabar-me de como friamente enfrentei todos os adversários.

Tranquilo decidi por os meus conhecimentos de direito aéreo em prática, dirigi-me ao balcão da KLM onde me disseram que tinham já alterado o meu voo para o dia seguinte de manhã e que portanto não tinha nada que me preocupar. Tudo estava a acontecer, como tantas vezes ouvi outros reclamar que lhes acontece, como tantas vezes encontrei relatado em e-mails e cartas de reclamação, desta vez...tinha-me calhado a mim. Um enorme sentimento budhista caiu sobre mim, e, aceitando o destino como é, fui para casa...

Não, não foi nada disto. Não voltei para casa porque um voo no dia seguinte não me servia de nada porque o que eu queria era ir a uma conferência no dia seguinte. Então com um enorme sorriso na cara e o tom enervantemente tranquilo que tento sempre produzir nestes momentos, expliquei que não podia ser pois precisava de ir para Copenhaga nesse dia, que de acordo com o Regulamento 261/2004 eu tinha direito a uma enormidade de coisas que iria de seguida elencar, mas que começava pela primeira, “re-routing” para o destino o mais rapido possivel, - não deixei nunca esquecer, ainda que dito de passagem, que a conferência onde ia era uma conferência de Direito Aéreo -.

Assim, subitamente, tinha um boarding pass de executiva no voo seguinte ainda aquela noite para Copenhaga, dinheiro para comer qualquer coisa enquanto esperava, crédito para usar no telefone ou e-mail do Aeroporto, e um voucher de 50 euros a descontar no meu próximo bilhete comprado na KLM. É verdade, há coisas boas em trabalhar em direito aéreo.

Pelo que, passei umas quantas horas na sala de espera da KLM, royal lounge, claro está já que me tinham feito um upgrade, no meio de gordos executivos de cinquenta anos a pensar como era indecente não ter acesso à internet naquele lugar. Comprei um filme em DVD para passar as horas, “A streetcar named desired” por 15 euros pareceu-me o melhor negocio – ainda que não tenha chegado a ver o filme – e deixei-me ficar no confortável sofá a pensar na vida, a pensar em Leiden, pensando muito...sobre os recentes acontecimentos, sobre as pessoas da nossa turma que poderiam ter cometido um crime, uma coisa que nos parece existir apenas nos filmes e que de repente ali estava, na minha vida, “enfiado” no meu calendário, complicando o que poderia ser simples, baralhando, o simpático professor Hannappel, toda a minha vida.

Pensei igualmente em Copenhaga. Eu adoro Copenhaga, é um cidade mesmo especial, o problema é ser tão cara, mesmo assim, tanto que me diverti por cá. A minha primeira chegada a Copenhaga fazia sol, cheio de sono por ter feito uma directa e outros precalços de interrail pelo meio, lembro-me de ter chegado à pousada do grande jamaicano preto chamado Mike que afinal, era uma velhinha dinamarquesa, como dormi umas 16 horas seguidas na sua pousada, como o chuveiro tinha um cheiro estranho que ainda hoje, oito anos depois, me lembro. Como comprei bolachas dinamarquesas a pensar que estava a receber um saco cheio daquelas bolachas que adorava em criança naquelas caixas azuis arredondadas (que, infelizmente, nunca duravam muito tempo) e afinal sabiam mal porque levavam gengibre ou coisa parecida, Copenhaga é maravilhoso, pena que, de certo ponto, irrite como a cidade é tão cara. Que prédio maravilhoso onde se viver, com esta praça onde tudo é bonito – mas o preço deve ser exorbitante - , que ruas excelentes onde se passear, incrivel como até as bicicletas têm melhor aspecto que na Holanda feitas em Titanio – pena que custem mais de 300 contos - , que ruas amplas, que som de carro a vir – pois claro, é um ferrari, não, é um ferrari 599 GTB – vou apenas dar um excelente passeio pela Stroget, e fingir que sou de cá. O melhor mesmo, é imaginar que vivo cá. Telhados verdes, uma historia de tareias levadas no seu próprio porto pelos Ingleses, ocupação nazi e um bairro que quer ser independente. Copenhaga tem de tudo. Provavelmente também terá assassinos.

Thursday, September 28, 2006

O suspeito de Taiwan

Banda Sonora: Radiohead - Stop whispering

Finalmente, fizemos a viagem à torre de controlo aéreo militar. Excusado será dizer que, atendendo aos acontecimentos com o Hannappel, o ambiente estava longe de ser o melhor. Ainda assim, penso que todos fizemos o melhor por aproveitar a visita. Praticamente toda a gente apareceu, a Cammy, Kammy, ou sei lá como se chama a nossa querida Chinesa de Taiwan, com nome mais de artista porno que de qualquer outra coisa, finalmente apareceu. Tem um penso na cara e coxeia quando anda. Não podemos deixar de ligar tal coisa ao facto do Professor Hannappel ter morrido após uma aquecida discussão e possivel luta com alguém. Poderia a Kammy ter alguma coisa a ver com a situação? É um facto que ninguem sabe onde ela estava quando o acidente aconteceu, mas talvez seja um pouco maniaco olhar assim para ela. Tem tudo menos o ar de quem poderia matar uma pessoa, mas por outro lado, como se parece uma pessoa capaz de matar outra? Todos nós somos capazes de ter instintos assassinos (quantos não tive eu relativamente à Isabel), mas daí a realmente cometer um crime, bom...vai um gigante passo para uns, talvez um pequeno passo para outros. De qualquer forma, não ponho a mão no fogo por ninguém. Que sei eu afinal dela? É de Taiwan, acabou o curso e decidiu imediatamente inscrever-se sem ter qualquer experiencia profissional. (O Hannappel uma vez salientou como a experiencia profissional é importante para se conseguir fazer um curso em condições e realmente apreender o necessário), tem uma voz irritante e um riso ainda mais irritante. Daqueles que dá vontade de a calar à porrada, sem na verdade ter dito nada. Tem a cara marcada, daquelas marcas que costumam resultar de uma fase teenager com bastante acne, ou, seguindo o riso dela, provavelmente o pai batia-lhe até ela se calar, e as marcas ficaram...

Bom, de qualquer forma tento falar com ela o minimo possivel por ser um ser, à partida, irritante. Contudo, independentemente da sua personalidade, é necessário admitir que mesmo sendo a pessoa mais amorosa do mundo, tem todo o ar de quem participou numa cena violenta como aquela em que resultou a morte do Prof. Hannappel.

Segundo o Imoh, com quem dividi o banco no terceiro comboio que apanhamos nesta longa viagem, a desculpa que ela apresentou foi ter tropeçado das escadas abaixo na estação de comboio. Pois, convenientemente sozinha digo eu, paranoico de merda também digo eu. Uma coisa é achar que ela tem um riso irritante, outra coisa é dizer que ela poderá ter cometido homicidio. Vou mas é calar-me e dormir um pouco.

O Crime
Finalmente, toda a confusão se desvaneceu, (ou começou). Finalmente, descobrimos o que se estava a passar. Mais valia nunca ter sabido, mais valia nunca ter acontecido. O Prof. Hannappel foi assassinado na segunda-feira e o Prof. Pablo Mendes de León foi levado a prestar declarações. Aparentemente o corpo do Prof. Hannappel foi descoberto em sua casa na terça-feira ao fim do dia após o seu desaparecimento da vida quotidiana durante o dia ter levantado suspeitas numa personalidade tão rotinada. O Prof. Mendes de León, como seu natural sucessor na competitiva vida académica que existe nas Universidades, da qual Leiden não é excepção, é quem mais beneficia com a morte do Académico e por isso teve imediatamente de prestar declarações. Mesmo assim, parece-me um pouco estranho escolherem-no a ele.

Contudo, a vantagem de escrever isto com alguns dias de atraso permite-me adiantar mais informação do que a que tinha quando originalmente escrevi este texto, veio a saber-se que uma vizinha tinha ouvido uma discussão de Hannappel com alguém, em Holandês, sobre precisamente o nosso LL.M., pelo que, de uma forma geral, todos somos suspeitos do horrivel crime. O Mendes de León em primeiro lugar, os alunos de seguida. Ainda assim a discussão foi em Holandês, pelo que não nos têm incomodado excepção feita ao Robert que, como cidadão Holandês, podia ter tido a referida discussão. Aparentemente houve uma discussão, moveis partiram-se e o Hannappel foi surpreendido com um golpe seco na nuca de um vaso que era sua propriedade.

Excusado será dizer como todo o ambiente se tornou bastante pesado. As nossas aulas vão continuar, isso já sabemos agora. A Judith parecia bastante desconsolada com toda a situação o que é, digamos, normal. Contudo, parece-me que exagera um pouco na tentativa de manter a nossa vida quotidiana como se bastasse trocar o Hannappel por outra pessoa, (até o jantar de hoje em casa da Paula continua organizado sem possibilidade de adiamento, mais um facto de socialização forçada).

O Hannapel será substituido e, como é natural acontecer em situações semelhantes a esta, o Mendes de León dará as aulas dele durante um periodo de tempo ate existir substituto. A noticia, contada pela Judith com o Mendes de León presente, caiu, claro está, como uma bomba. Todos nos olhámos surpreendidos e apenas uma cara sorridente existia na sala, a do Kabenda, ou Kabeza, ou lá como se chama o Camaronês que me esqueço sempre dele. Mas suspeito que tal sorriso queria apenas dizer que ele não estava realmente a perceber o que se estava a passar. O Imoh explicou-lhe a situação mais tarde, segundo me contou.

Espero que apanhem o assassino depressa e levantem a suspeita que paira sobre toda a turma. Será um jantar certamente desagradável

Wednesday, September 27, 2006

A Francofose

banda sonora - The Smiths - There is a light that never goes out

O presente texto deveria ser acompanhado pela imagem do quadro metamorfose da Paula Rego, infelizmente, há já alguns posts para cá que não tenho conseguido fazer upload de imagens.


F. acordou e sentiu-se quente, suado, extremamente irritado pela luz. Olhou para si próprio e encheu-se de terror. O seu corpo, encontrava-se transformado no de um horrivel insecto.

Rebolei sobre a minha casca, aparentemente não foi dificil colocar-me sobre as patas e corri para a casa de banho. Tomei um excelente banho depois de um complicado esforço de abrir a agua com as minhas quatro patas dianteiras enquanto aguentava o enorme peso do meu corpo sobre as duas patitas que me restavam. A luz era extremamente desagradável, por isso tomei banho às escuras.

Tentei vestir-me, foi um esforço inutil, a minha roupa não me servia. Pensei como seria sair à rua assim e pensei seriamente ficar no quarto o dia todo a chorar a minha triste fortuna que me havia feito acordar transformado num insecto. “Podia ser pior” - pensei para mim – “ao menos sou grande o suficiente para não ser pisado e acabar a minha vida sob a sola de um enorme pé holandês”.

Mas não podia ficar no quarto, tinha de tratar de tanta coisa... saí da casa com algum temor de ser visto por alguém. Um pouco inútil já que quando chegasse à rua não poderia esconder a minha horrivel condição. Ao menos no meio de tanta pata e baba que, aparentemente, me saía incontrolavelmente pelo que outrora fora uma boca, hoje uma estranha glangula de sucção de alimentos, ninguém notaria o facto de não ter qualquer roupa. De qualquer forma, a ideia de enojar um estranho na rua parecia mais agradável que qualquer das pessoas que vive no prédio.

Estranhamente, na rua ninguém teve qualquer reacção fora do comum, é como se para eles eu fosse uma pessoa normal. Certamente, a minha condição de insecto era apenas aos meus olhos visível, o que fazia de todo o meu terror não menor problema do que se fosse visto por todos. Talvez acabasse, caso fosse visível ao olho comum o meu estado, dentro de um frasco de formol em qualquer escola de ciência para ser estudado, mas assim, insecto apenas perante eu próprio, senti um pavor de perpetuar a minha existência nesta condição, o que para todos os efeitos, me parece como um dos mais terriveis castigos que poderemos sofrer na vida.

Dirigi-me à Agência através da qual encontrei a minha casa. Aqui, de forma a fazer o contrato de arrendamento, necessitava uma declaração negocial de interesse da casa de forma a garantir que não era arrendada a outra pessoa. O espaço encontrava-se algo escuro, o que para mim era agradável, especialmente quando o nevoeiro que se fazia sentir em Leiden já estava a desaparecer e o sol incomodava-me. A funcionária perguntou se eu queria um copo de água, mas com medo de não o conseguir beber, ou antes ingerir já que não sei se beber é um possivel termo aplicável, educadamente recusei. A minha cauda (sim, cauda, porque não ser um insecto com cauda) desastradamente atirou uma caneta ao chão a qual não apanhei com medo de me desiquilibrar na minha massa corporal disforme, toda esta situação, que poderia ser vista como inofensiva na verdade não foi, pois causou um enorme mal-estar com a funcionária da agência. Depois de ler todos os papeis várias vezes (já que na minha esfera visual conseguia ver vários angulos do papel para onde olhava), conclui que necessitava fazer uma transferência bancária e indicar o meu banco cá na Holanda. Pressionado por toda a situação, a minha deformação horrível, a atitude passiva de quem parecia estar a olhar para uma pessoa e todo o mau estar causado pela caneta fez com que, em vez de calmamente procurar uma solução, fugisse dali para fora prometendo voltar quando tivesse uma conta bancária.

No ABN-AMRO, mais humanos. Aparentemente a minha situação é única, ou então também a mim, mesmo insecto, os outros me parecem humanos normais. No banco fui informado que, para abrir uma conta, necessitaria de uma declaração donde constasse a minha futura morada. Excusado será dizer que, tentei explicar à funcionária como a abertura da conta teria de ser forçosamente previa a ter casa de forma a poder ter uma casa. A funcionária ficou impassivel. Desisti.

Na verdade, tinha no caminho passado por uns 4 caixotes de lixo e sentido alguma fome, descia a rua sobre as minhas quatro patas enquanto coçava o queixo e com a outra chutava uma garrafa de fanta pelo caminho fora. “Porque é que os bancos nos pedem uma morada? Mas por acaso alguém vai depositar dinheiro num banco para depois desaparecer sem rasto e nunca mais dar noticias?”.

Bem, dirigi-me à Camara Municipal. O Municipio é uma peça essencial em todo este processo, lá necessito obter a minha residencia legal, documento imprescindivel, tanto para abrir uma conta como para alugar a casa. Claro que por esta altura me sentia mais conformado com a minha nova grotesca aparência física, além do mais, numa câmara municipal certamente veria mais bizarros animais por detrás do balcão. Citando a arara que me atendeu, como me custa aceitar a forma como olham para mim, como se fosse um normal ser humano, “Sendo aluno deve tratar de todo o processo através do Gabinete de Relações Internacionais da Universidade”.

Mas, de novo aqui, no Gabinete de Relações Internacionais da Universidade de Leiden me pedem uma morada.

Pelo que, de forma a obter residencia tenho de ir à Universidade. Os serviços da Universidade pedem-me um documento comprovativo da minha residência, de forma a ter um sitio onde morar, necessito demonstrar a minha residência e abrir uma conta no banco. Para abrir uma conta no banco, necessito tanto de obter a residencia como ter um local onde morar.

Derrotado, humilhado, cansado, a cheirar mal voltei derrotado para casa. Deitei-me sem comer. Bom, saquei um par de escaravelhos do caixote de lixo que me souberam maravilhosamente bem. Após umas horas de sono, pensei, voltarei a ser humano de certeza.
hoje tive um dia estranhíssimo! Não sei bem o que aconteceu, apenas que a ida a um centro de controlo de tráfego foi cancelado.
Aproveitei o dia para arranjar casa, finalmente já tenho casa a partir de novembro. Até lá, fico com um quarto no prédio da Line.

O universo de facto, é perfeito, e toma conta de nós.

Mais que isso pela manhã soube que tenho a oral marcada para dia 12 de Outubro. Assim que irei a Portugal.

Leiden está hoje, especialmente estranha...e esta coisa da visita cancelada? Não sei o que aconteceu. Eles são um pouco desorganizados, mas normalmente não são tanto.
Visita de Estudo


Antes de mais, caso perguntem porque é que não tenho acrescentado nada ao meu Blog ultimamente, não tem nada a ver com a erva holandesa nem com a minha ida a Amsterdão este fim-de-semana, na verdade é porque mudei de quarto. Neste momento, estou no futuro quarto da Line, com uma cama, metade das paredes pintadas, e duas maravilhosas janelas sobre o canal que compensam tudo menos, a falta de ligação à Internet.

Neste Domingo à noite, convem explicar já que a data de entrada da informação no blog será...quando calhar, olho para o fim-de-semana que passou com alguma frustração. Ainda assim posso dizer que imensa coisa aconteceu. Ontem fui a Schiphol buscar o meu bilhete para Copenhaga. Para a semana, sim, vou a Copenhaga. Além disso comprei um cadeado para a minha bicicleta, é certamente o cadeado mais ridiculo que alguma vez vi, mas a verdade é que cumpre os seus dois objectivos, fingir que a bicicleta está, de alguma forma segura, ou pelo menos não abandonada e assim não ser um convite ao mergulho no canal e, por outro lado, conseguir ser mais barato que uma bicicleta de cinco euros. No total, bicicleta mais cadeado, ficaram por oito euros. Inacreditável, perante este preço, quem pode levar em conta pequenos detalhes como os travões não funcionarem, ser ferrugenta, ou qualquer outra miseravel indefinição da sua existência como uma bicicleta?

Bom, de qualquer forma, o prato do dia foi certamente o meu domingo. Visita de estudo! Sim, verdade, tive uma visita de estudo (e amanhã terei outra, mas cada coisa a seu tempo...) e foi algo de grotesco. Decidi entretanto que vou relatar tranquilamente os meus colegas de turma, cada um deles é um diamante em bruto enquanto ser humano, e todos juntos, somos o que se pode realmente chamar “a fucked up bunch”!

Anyway, eis o que se passou neste maravilhoso domingo. Encontramo-nos na estação de Comboios por volta da uma da tarde. Aproveitei para acordar com calma, ir até ao centro, comi qualquer coisa e depois juntei-me à deliciosa troupe com que partilho a paixão pela aviação. Quando cheguei, tudo estava como já esperava, a simpatica Judith, coordenadora do programa já lá estava, juntamente com a exotica Hungara Kinga, e o introvertido Inglês Londrino, Scott. O par habitual do Scott, um americano chamado Jason não apareceu. O grande e poderoso Imoh, um Nigeriano cristão que me recorda constantemente o Eko do “Lost” ligou-me a dizer que estava atrasado e perguntou se lhe podia ir comprando o bilhete. Dito e feito, no meu regresso a ex-militar Sara já tinha aparecido, a Jackie, sua irritante amiga da Republica Democrática da China também faltou ao contrário do Kosovar Enis que havia chegado, de facto e com um ar deprimido, claramente o Enis encontra-se no ramadão. Pouco depois chegaram os mais atrasados, a Kathleen, alemã desportiva e a Rita, a minha colega Portuguesa da Ana Aeroportos de quem não muito falarei pois ela certamente pode ler este blog. Além de que, honestamente, ela é dos poucos daquela turma que não merece ser vitima do meu habitual tom cáustico de descrição das coisas (ainda que escrito nunca seja tao mau como falado). A Lauren, escocesa em fase pós adolescente, delegada de turma não sei de acordo com que espirito masoquista também já lá estava.

Todos juntos, lá fomos nós para o comboio em direcção a Amsterdão, sentamo-nos todos mais ou menos ao calhas, sendo que fiquei ao lado da Judith e com o Imoh, à minha frente. Ao lado dele ficou o “gaijo” do Rwanda, que eu não sei bem como se chama, Kabeza, ou coisa assim (ele nunca sabe bem onde está, nem por onde anda, mas vem sempre... já por uma vez ou outra notei nele instintos assassinos). Ao nosso lado, dois pacatos holandeses olhavam entretidos para a Rita e para a Kathleen. O tema de conversa, o facto de que terça feira temos um jantar, onde cada um deve levar algo cozinhado, tipico do seu país. Hhuuuummmm...qualquer pessoa que saiba como eu sou a cozinhar imediatamente teme pela vida. Mas esta gente parece ser capaz de enfrentar qualquer coisa.

Chegados a Amsterdão, começamos a notar todo o ridiculo da coisa. Um grupo estranho, todo junto, mais parecia que seguiamos em conjunto o guia turistico, só faltava o guarda-chuva e em busca da saída. A nossa missão, ver uma exposição de design industrial de aviões. MAS QUEM FOI O SÁDICO QUE SE LEMBROU DE NOS METER A TODOS NUMA EXPOSIÇÃO DE DESIGN DE AVIÕES? Lá estava ele, à porta da estação à nossa espera, o Prof. Happelman.

O Professor Happelman é um daqueles académicos que vive noutro mundo. Simpático, olha-nos com um ar perigoso por detrás das suas enormes lentes redondas. O que ele está a pensar, escapa-me totalmente mas é de certa forma desagradável. Percebi o genero quando a primeira aula foi adiada duas horas porque ele tinha perdido a carteira. Presumo que já a tenha encontrado no bolso de trás das calças onde sempre esteve. O ultimo do grupo, o solícito Robert, unico aluno Holandes da turma, juntou-se igualmente, e apenas, em Amsterdão.

Depois de duas horas em profunda admiração do desenvolvimento do design dos tabuleiros de comida nos vários DC’s, Caravelle’s, Boeings e Concordes, podemos finalmente abandonar aquele horror. Ainda fomos tomar café e finalmente, o Prof. Happelman convidou-nos a todos a ir a sua casa tomar uma bebida e conversar um pouco. Daqueles convites que não se podem recusar, daqueles convites que todos queremos recusar. O tipo de actividade social que apenas duas pessoas no mundo verdadeiramente adoram, o Pedro Alves e o meu pai. Instalados na sua confortável casa, compreendemos que ele vive sozinho, com um enorme canal à frente da sua casa e alguem lá levou comida para todos, incluindo o Enis que se limitou a sentar numa almofada à espera que anoitecesse para poder comer qualquer coisa.

De longe, o momento mais horrivel foi quando o Robert, sempre atencioso na forma hitleriana que os holandeses conseguem ser atenciosos, disse ao Enia para ir buscar um prato de comida, se servir e dessa forma garantir que algo sobrasse quando fosse noite, senão correria o risco de não haver nada quando, finalmente, lhe fosse permitido comer.

Eu disse que descreveria eventualmente todos os meus colegas mas, sendo Leiden o aborrecimento que é, penso que poderei igualmente descrever os professores.

O Professor Happelman, amanhã perderei tempo com o Mendes de León, é o perfeito académico, dos que vive no seu mundo louco longe de qualquer realidade. Quando dá aulas, salta de matéria em matéria que nos deixa a todos apreensivos sobre o que se está a passar. Certamente na sua mente faz sentido. É pouco alto para holandês, podendo mesmo dizer-se que é um homem baixo, não é magro, mas também não é gordo. A indefinição resulta da sua barriga marcar posição, certamente também académica, mas o resto do corpo tem proporções normais. Em suma, é um barrigudo.

Meio ruivo, tem uns oculos redondos de massa e um enorme sorriso constante em parte forçado pelos dentes salientes. Contudo o seu olhar, é dos que nos interroga por dentro, semelhante ao dos Coutinhos mais idosos o que sempre tomei como uma infalível marca de inteligência. Olha com ar guloso para todo o tabaco que vê arder, o que revela nele um claro ex-fumador. Fiquei surpreendido ao ver que vivia sozinho, sempre imaginei que tivesse uma daquelas infatigáveis mulheres que acompanham este tipo de pessoas, tomando conta deles, metaforicamente apertando os sapatos que eles se esquecem de apertar. Se calhar é viuvo, ou entao uma lição de que o génio não garante que a pessoa ao nosso lado não nos deixe quando se farta da nossa loucura, Ou quando a paciencia se esgota.

A Lauren foi a primeira a sair, foi ter com o namorado, ela diz, para ir à opera. Depois a Kinga e o Kabeza. Cerca de uma hora depois saí também, o Imoh veio comigo, voltámos a Leiden fazendo um belo caminho até à Centraal. Foi bom recordar Amsterdão, quando tiver tempo vou lá aos fins-de-semana. Pelo caminho jurei ver a Lauren perto da Rembrantplatz, mas pode ter sido impressão minha.

Por hoje, não vos aborreço mais. De qualquer forma, nunca conseguiria transmitir a sensação que é, aos 26, embarcar numa visita de estudo com o Professor. É como vestir um fato de escuteiro de uma criança de 12 anos. Não basta ser ridiculo, pura e simplesmente não nos serve.

Friday, September 22, 2006

Ultrapassada a semana (claramente pela direita),

banda sonora: Nick Drake - Place to be

Chegada a sexta-feira, mais uma casa vista, mais uma casa totalmente rejeitada. Que pensar de toda a suspeita criada nesta....huuuummm...não quereria ser esquisito e de facto, barata era, mas era facil compreender porque era barata. Quando encontramos um rés-do-chão, com grande vitrine, balcão ao pé do vidro e uma casa de banha luxuosa com jacuzzi no bairro de porto de Leiden, se se pode chamar bairro de porto, pensei realmente se sentar-me à noite à janela em roupa interior com uma luz flurescente sob o meu veludo e sensual (bom, pelo menos que é cheio de curvas ninguem pode, ou deve, duvidar) me pagaria a renda em poucas noites, o mais provavel é que iria preso por prostituição sem recibo em troca.
Eu sei, a banda sonora não aponta bem para isto, mas isso é porque o quarto foi à tarde e agora é...bom, agora é hora holandesa de jantar, as aulas estão despachadas e amanhã é sabado, um perigoso-sem-nada-para-fazer sábado. Talvez vá ao Reijks em Amsterdão, fica a dez minutos de Leiden, Amsterdão, e nunca fui ao Reijks... mas estará a chover? Em que estado acordarei depois de uma sexta-feira em Leiden? Ontem tive um dos maiores aborrecimentos desde que ca estou, um dia de merda e um holandes que nao apareceu para me mostrar uma casa para depois ao fim do dia beber uma cerveja, a qual já sei pedir como bom holandes, so nao sei na verdade escrever, mas bom...o que importa é pedir, com uma alema aborrecida e atada a contar-me o excitante que é passar 4 meses em Leiden...dassssss...se Leiden é algo, excitante está longe de ser a primeira palavra que me surge na cabeça. Em que momento em que deixei de prestar atenção a todo o tipo de pessoas? Antes nao era assim, quando terei perdido a total capacidade de perdoar a todos a pessoa que são, de me dar ao trabalho de escavar a beleza de dentro de cada um? Hoje, espero a ver se a vejo, não deixo de olhar, mas certamente perdi a paciência de prescrutar a pessoa em busca do bonito, do "bom", será que o Nick Drake o fazia? Será que Nick Drake o fazia sempre? (claro que nao, estou a falar de um maniaco depressivo na fase final da carreira, obviamente há muito que ele tinha desistido do lado bom da humanidade). Bom, de qualquer forma, tive dias exactamente como o pink moon, curtos, atirados e simples, da simplicidade que me tem entretido os dias, a de me sentar, à porta de casa, sentado na borda do canal,a ver o cisne nadar. O mesmo cisne, todos os dias, passeia pela frente da casa, do outro lado do canal, pacatos Holandeses sentados na varanda quando nao chove jantam calmamente, do primeiro andar, alguem me diz adeus, é a rapariga que vive no predio onde estou "infiltrado", esta na cozinha do namorado a ajudar ao jantar. Ele vive mesmo do outro lado. Acho que começo a conhecer todos os carros e gatos em Leiden. Sim, não deve haver muito mais, há um mini laranja, um carocha dos novos verde-lima, um mercedes azu escuro e um verde, um mazerati antigo, esse costuma estar estacionado ao pé da faculdade de direito e uma bicicleta sem travoes. Ontem declarei-me uma ameaça à sociedade, dei por mim a conduzir em sentido contrário, sem travoes, e pouco hábil na arte da bicicleta.
É, quando faz sol e os holandeses levam a sua vida à rua, o que não acontece muito por estes lados, todos eles trazem consigo as suas manias, as suas bicicletas e flores importadas do Quénia, e nas ruas com pequenos canais onde todos saboreiam a pacatez como nenhum latino faz, é Pink Drake que se ouve de banda sonora, mas não sou eu que canto que Leiden é um "Place to be", eles é que o cantam.
O que quero mesmo dizer, acho, é que esta gente não se odeia, porque é que nós temos de nos odiar em Lisboa? Porque a falta de segurança? Os fantasmas que se atirem para dentro do armário, podem lá ficar, desde que nunca saiam...

Wednesday, September 20, 2006

Banda Sonora,

esqueci-me de banda sonora para os mais recentes posts, mas compenso agora...

Leonard Cohen - I left a woman waiting
“Antropolosofia”

Ontem. Ontem fui a uma festa, uma festa de Antropólogos. Todos mais ou menos iguais, todos holandeses e uns belgas, aproveitei para ir beber uma cerveja calmamente e observar o “animal” em questão.

Assim, este latino disfarçado (ma non troppo disfarçado na verdade, ou pelo menos não disfarçado de antropólogo holandês), sentou-se a um canto, meteu conversa, falou com um par de pessoas e subitamente, sentou-se na minha mesa a Miss antropóloga do dia, saiba-se, a razão da festa, uma rapariga que tinha acabado de se formar, acabado nessa mesma tarde de defender a sua tese, a qual, para super-super novidade, versava sobre os horrores da castração feminina no Mali.

Ok, certo, também não gostava de ser uma mulher castrada no Mali (foda-se, pensando bem, não gostaria de ser mulher e muito menos mulher no Mali, devo dizer como ser uma mulher castrada no Mali não está no topo dos meus desejos? Pior só ser uma mulher à espera de ser castrada no Mali).

Bom, mas passando isso, fico sempre com a mesma duvida. Nunca vi um movimento de homens do Mali, nas ruas das capitais europeias defendendo a castração das mulheres europeias, com que legitimidade é que nós podemos ir até lá tentar obrigá-los a parar de castrar as suas mulheres? Vejamos, podemos achar que temos um superior conhecimento cientifico que tal coisa não se faz, mas certamente não o fazem por razões medicinais, mas sim culturais. Porque é que temos de achar que temos o direito de os fazer parar porque a nossa cultura não o permite? Não me venham falar em direitos humanos internacionais dignos de toda a cultura humana. Sejamos honestos, esses são os valores que nossa cultura ocidental descendente da dita cultura clássica toma por universais, mas alguem ja perguntou aos outros astros se concordam? A verdade, é que o universo é muito grande e eu suspeito que nós nem no continente mesmo abaixo do nosso perguntámos. A questão é, não será altura de relativizarmos um pouco a nossa mentalidade? Deixar de impor aos outros as nossas crenças? Quem somos nós? Os filhos preferidos de Deus, obviamente, nunca deixámos de ser dentro das nossas cabeças para reinar a hipocrisia da forma que o fazemos.

Por outro lado, devemos apenas cruzar os braços e não fazer nada? Já acreditei mais nisso, sempre foi para mim a conclusão lógica da não existência de valores universais e a relativização dos meus próprios que a resposta seria ser tolerante com os valores dos outros. Mas tal é o caminho da tolerância?

Hoje, já encontro uma acção possivel na tolerancia, é sentar à mesa e falar, não tentar convencer, apenas falar, conversar com aqueles que não acreditam no mesmo do que nós, é, do ponto de vista tolerante, trocar impressões e, após um processo interno de assimilação da realidade de opinião de terceiros com que contactamos, descobrir de que forma o inerente enriquecimento de ouvir outros pode contribuir para o nosso próprio enriquecimento. No fundo, não digo aquilo que todos nós não sabiamos já antes, que ser tolerância não é simplesmente permitir que os outros hajam como eles crêem correcto, mas sim observar no comportamento dos outros a razão de ser diferente e o direito que lhes assiste.

O que, levado para a realidade das mulheres castradas do Mali significa tão e só isso, sentar à mesa e compreender, sentar à mesa e falar, sentar à mesa e nunca, nunca doutrinar. Abandonar a pose destas modernas pseudo-lutadoras pelos direitos humanos ditos “universais” que mais se assemelham a poses de fanáticos jesuitas insuportáveis e sentar à mesa...ouvindo e aprender.

Se ninguém se senta à mesa, tant pis...
Chegado a Leiden, as primeiras impressões.


Como se a minha voz fosse mais alta que a de qualquer pessoa que cá chega.

Por suposto, qualquer um pode comentá-lo em seu pleno direito, mas imaginemos, em acto de gaudio pessoal de um narrador (o qual não é nunca mais do que meramente identificavel com a pessoa que se encontra por detrás dele, o pensador das ideias que um narrador concretiza), que a nossa opinião tem qualquer valor, um toque especial que nos permite, não descrever, mas sentenciá-lo. Pois bem, nesses termos, Leiden é pequeno, Leiden é muito pequeno, daquelas terras que em meia hora a pé se encontra percorrida. Com todos os luxos e sabores que isso significa, posso afirmar que no primeiro dia, em que ainda andei bastante a pé, fiz um amigo, um gato sentado ao sol, de um branco com preguiçosas manchas laranja.

No segundo dia em Leiden, o gato já lá não estava... mas isso é porque chovia, chovia não...chovia bastante. Comecei as minhas aulas, uma turma de pessoas dedicada à aviação. Uma mesa de sabedores de APU’s, basicamente.sabedores de APU’s entenda-se, pessoas que sabem o que um APU é, digamos que mais do que isso duvido que muitos ali percebessem. Um Professor descendente de segunda geração do proprio Cooper, e sabedoria a rodos a circular na sala.

Fora da sala, comida holandesa, as primeiras palavras em Holandes, Koffie Verkeert, ou algo parecido que será o mais parecido com uma meia de leite que se consegue por aqui (sejamos honesto, tudo o resto é impossivel de desejar, ou intragável de comparar) e uma bicicleta, sim...uma bicicleta. A Line foi ao teatro e no regresso um drogado (deverei dizer toxico-dependente) para ser correcto? Anyway, este toxicodependente tinha uma bicicleta acabada de roubar e vendeu-a por cinco euros. Assim, como a dela está avariada, vai usando a “minha” nova bicicleta durante uns dias até eu a receber. Na verdade nao tenho precisado dela e ela vai sabendo como conduzir uma bicicleta sem travões...ah, pois, esqueci-me de dizer, não tem travões. Bem vindo a Leiden.


Nice,

A personal remark, Nice is not nice.


Sunday, September 17, 2006

Leiden, à chegada é certamente diferente do que à partida

Banda sonora: Six Organs of admittance - Lisboa
Nada como chegar, ainda que a sensação não seja de chegada, neste momento estou desfazado de tudo, é normal, uma sensação já conhecida de outros momentos, de outras felicidades vividas noutras aventuras. Não deixo de pensar no que foi partir, juntar pessoas que me abraçaram e me desejaram sorte, promessas de visitas, assim que conseguirem vir e eu as consiga receber. Vou começar claro, a "to do list" de cá estar, mas enquanto não começar realmente a fazer as coisas que preciso fazer esta semana, não deixo de me lembrar, e consequentemente questionar, os contornos de todos os que me rodeiam, aqueles que vão ficando...porque será que ficam? Porque será que eu fico com eles, (não apenas um "porque vale a pena") mas sim um querer saber porque vale a pena. Teremos todos sido irremediavelmente viciados em crianças com os forever friends?
Isto não está a ir a muito lado, na verdade não vai a lado nenhum, já devem ter percebido isso. O que eu quero aproveitar é a curiosidade de quem quer saber as minhas primeiras impressões de Leiden, as qual já tenho, já tenho e vou dar, mas antes, mesmo antes, quero aproveitar a curiosidade, o atento ler, para impingir os meus amigos, todos aqueles, até os que raras vezes dizem o que seja e disseram desta vez, é bom sentir tanta união. Porque somos assim apenas quando nos despedimos?
Leiden, primeiras impressões... vocês vão ter de esperar um pouco. Até lá, sintam os amigos, sintam-nos, mesmo antes de terem de partir para algum lado, pois o mundo é igual em todo o lado, casas e ruas, o que vale mesmo a pena, são todas as pessoas que preenchem essas casas e ruas.
Eu sei, todos vcs aproveitam, mas...custa ouvir isto mais uma vez? Ou não será como tudo, como todos aqueles intermináveis trabalhos sobre o ambiente, da terceira classe ao décimo ano, para sentir que nem um ajudou a que alguem não deitasse um papel ao chão, apenas serviram para gastar cartolina... é, viva a industria de papel que abate arvores para nós fazermos lindos trabalhos sobre o ambiente em cartolina.

A partida


Banda sonora: Isaac Hayes - Theme from Shaft

Para quem não for distraido como eu, é obvio que passaram alguns dias desde a minha primeira entrada neste Blog. Pensei se deveria esperar por chegar a Leiden ou continuar ainda por cá. Na verdade, não me decidi nunca quanto a este ponto e o facto de ainda estar em Lisboa no preciso momento em que escrevo isto, é uma mera constatação de facto. Possivelmente até so vou acabar esta entrada em Leiden.

Os ultimos preparativos foram algo infernal, as despedidas algo maravilhosas. Os ultimo dois dias ou três, desde que comecei este blog, deu-me a oportunidade de, para além de trabalhar, ir ao teatro (vou ter de fazer uma entrada sobre o teatro, provavelmente chamada: "O teatro e o seu orçamento: Tentanto compreender uma lógica que não existe").

A verdade e que, neste momento, tenho a mala à porta e estou à espera que me venham buscar...um pouco à imagem de uma personagem de Kafka, eu sei que não conseguirei acabar esta entrada a tempo, sinto-me sentado numa pequena cadeira de pau numa sala nua, sentado, medroso, à espera que me apanhem, esperando nao sujar as calças do fato... Queria falar imenso sobre o momento antes de embarcar, mas é certo que não o farei, já oiço um carro, pressinto-o, é AGORA! Vão-me levar para o Aeroporto!
Teoria da Hora de Verão:
Banda Sonora: Clássico R&B "Time is on my side" por Irma Thomas, ou, mais facil de encontrar, versão dos Rolling Stones.

Já lá para trás havia prometido explicar a minha teoria da hora de verão...como hoje chove, aqui vai: Como todos sabemos, a hora de verão é aquele momento do ano em que mudamos a hora do relógio de forma a, durante os meses de verão em que o sol surge mais cedo, haja um maior aproveitamento da luz solar.

Embora todos saibamos isto, é comum dizer que "ganhamos" uma hora quando alteramos o relógio e, na verdade, todos o sentimos pois em dois momentos muito especificos do ano, ou se torna uma hora mais cedo, (o que nos permite fazer diferentes coisas desde dormir mais, ir à sessão da meia noite sem sentimento de culpa, ou tentar recuperar romance - constando até que em casais de cama separada por vezes ainda o fazem - em relações onde este está por vezes esquecido), ou então todos nos tramamos e andamos uma hora para a frente.

Tenho a dizer que esta coisa sempre me fascinou desde pequeno, o facto de todos juntos, num determinado dia do ano (que eu nunca sei bem qual é, até parece a minha marcação bi-anual de dentista), nos juntamos e acrescentamos mais uma HORA ao nosso dia para proveito de todos como se fosse normal, faltanto aquele sorrisinho cumplice que seria de esperar de uma conspiração nacional bem talhada que é posta em prática sem falhas. Mas, e isso surpreende-me mais, alguns meses depois em data que não tem nada a ver, todos em acto de masoquismo surreal temos de retirar uma hora ao nosso dia e levantar mais cedo, esquecer a tal sessão da meia noite e alguns casais, certificar que a cama dessa noite está bem separada.

Ora, após um intenso estudo ao bom estilo cientifico da Margarida Marante, ou seja, decidindo sem qualquer base factual ou opinião técnica mas falando por cima de todos os outros até a minha opiniao acabar por ser a unica dita, eu criei a chamada teoria da hora de verão, é extremamente util pois poderá ajudar-nos a todos a, com base na data de nascimento das pessoas, identificar o tipo de pessoa, ora note-se:

O que muita gente não sabe é que a hora de verão é uma criação recente do (tambem recentemente)seculo passado. Foi pela primeira vez experimentada na Alemanha em 1916 e originalmente pensada por um Inglês. Visava o consumo de energia, mormente de carvão e, como se pode ver pelo ano, em plena primeira guerra mundial, acho que foi mais por fé do que por qualquer outra coisa que se decidiu experimentar.

Ora, tendo sido aplicada há menos de 100 anos (90 anos para ser mais preciso) é seguro afirmar que nós somos a segunda/terceira geração a nascer já com o sistema implementado, não como uma lei de consumo de energia, mas uma regra de vida originária de uma cumplicidade social tremenda. (O momento em que todos mexemos o relogio e no dia seguinte aparecemos no trabalho ou escola com o sorriso de quem nao se esqueceu!).

Do meu metodo Margarida Marante resultou contudo algo bem mais grave, a consciencia que a personalidade das pessoas é afectada pela hora a que nascem, pois eu, enquanto filho da hora de verão, cedo conclui que a primeira vez que mudei o relógio, recebi mais uma hora, a usei como bem me apeteceu durante seis meses e depois tive de a devolver, nao paguei imposto, nao paguei juros e na verdade, ninguem me pediu qualquer formulario, o que em Portugal é ainda mais raro. Claro que, para ser honesto, a PRIMEIRA vez não terá tido grande impacto, mas enfim...em anos posteriores lá a terei aproveitado melhor.

Contudo, quem nasce na hora de inverno, em determinado ponto do seu ano de vida, teve de "devolver" uma hora ao estado, perdeu uma hora do seu dia. Só que, ao contrário da pessoa que nasce na hora de verão, ele nunca a recebeu de todo, assim, a hora que ele deu, foi-lhe tirada da sua esfera pessoal sem qualquer tipo de compensação. Quando volta a mudar o relógio apenas lhe é devolvida uma hora do dia cuja posse lhe foi retirada meio ano antes.
Usando o exemplo que costumo usar, imaginem que têm um jantar com amigos que é adiantado uma hora. Nesse caso, parece que nos "tiram" uma hora ao planeamento diário, e tudo se torna o caos. A unica forma de uma pessoa se safar é com stress e cuidado planeamento. Assim, aquelas pessoas que passam metade do ano com menos uma hora, sentem no seu interior alguma necessidade de planeamento, sendo pessoas geralmente organizadas e, estão constantemente stressadas com a pena que lhes foi aplicada apenas porque nasceram na hora de inverno.
Por outro lado, quem nasce na hora de verão, é precisamente como se o tal jantar fosse adiado uma hora, quando o nosso compromisso é adiado uma hora, sentimos sempre que podemos fazer o que queremos, descontrair porque conseguiremos facilmente cumprir com o planeado, afinal, temos mais uma hora. Consequentemente, quem nasce na hora de verão, sente sempre a tranquilidade de quem tem mais tempo para fazer as coisas pois durante meio ano tem mais uma hora, pode ter a calma de organizar a sua vida, etc,etc,etc...
Esta é a teoria, da hora de verão, agora, se quisermos dar um toque Borges à coisa, deixo o desafio, (não, não é traduzir isto para Castelhano Argentino), mas sim pensar um pouco na seguinte questão:
Se assumirmos que a probabilidade de nascer num determinado dia do ano é de "1" sobre "365", pois nasce gente todos os dias num ano de 365 dias, então até poderiamos arriscar que a hora que alguem recebeu no verão foi dada por alguem nascido no inverno, ou, para seguir a logica formal, começando na primeira pessoa que nasce na hora de inverno, quando o relógio for alterado, perderá uma hora, que será entregue a alguem que nasce na hora de verão. O numero de horas é sempre fixo, porque a cada hora devolvida alguem recebe uma hora a mais. Isto contudo nunca pode ser assim pois quando o relógio anda, para trás ou para a frente, anda para todos, ou seja, quando a pessoa da hora de inverno fica com menos uma hora, a pessoa nascida na hora de verão nao recebe essa hora pois ele nao fica com uma hora a mais, apenas compensa com uma hora que já antes recebeu. De onde se conclui que para metade da população, os que nascem na hora de verão, existe mais uma hora que para as pessoas nascidas na hora de inverno não existe. Ora, então como nos atrevemos a contar o tempo por igual para todos, é uma flagrante injustiça, mas de que forma pode ser compensada?

Tuesday, September 12, 2006

wild jungle in the Netherlands

(Disclaimer warning: ESTA TRETA DE TEXTO VAI ESCRITO DE CHORRILHO, QUEM NÃO TIVER NADA PARA FAZER QUE META UMA PONTUAÇÃO DECENTE)


ok, vamos lá, nada como começar um blog sobre Leiden...em Lisboa.

Primeiro, pensar objectivo...darn...think, think, think... vai valer a pena fazer isto ou vou-me ficar por um par de posts ainda antes de partir.... huummm...não pensar em como um "blog" é uma espécie de Anti-diário. Escrevemos, falamos sobre tuuuuuuuuuuuudo menos o que é importante porque...bom, porque outros vão ler claro. Se não lerem, então não vale a pena fazer um blog.

Ok, agora...(acho que já comecei a exagerar nos "ok's"... hummmm... e nos "huummmsss" também, merda de pseudo-escrita criativa é o que é.) Deverei pegar na régua e esquadro e começar a fazer as coisas com cuidado e em busca de uma fantástica criatividade que nunca terei? Bom, nem vale a pena ir por aí...já ponho parágrafos e é uma sorte, agradeço a Descartes por os ter inventado e penso... já sei, não tenho que me preocupar, se for um ano como penso que será, a estudar e a voar, isto passa num instante, (talvez tente umas graçolas para me sentir acompanhado e longe de estar a cabecear o muro das lamentações, quem sabe...atiro umas laranjas ao ar e tento manter a coisa equilibrada) ou então sairá um ano todo trocado e não precisarei de grande imaginação...

Assim, objectivo deste Blog: Let's all give Francisco some pep!

... mas ainda não, porque ainda estou em Lisboa. Aliás, decidi agora mesmo começar a fazer isto, estava a chegar a casa depois de uma maravilhosa aventura no C.C. Colombo (simmmmmmm, como qualquer bom blog de português, tudo começa no Colombo, o lugar de sonho, de magia, de encantamento, de paredes cor-de-rosa, de cascatas artificiais, de exposições de dinossauros de plastico no patio central, de Worten's, de golfinhos em estatuas ridiculamente fuleiras, de pitas da Colina do Sol que nem me galam nem me assaltam, sim...o Colombo, o sitio onde fui mudar as lentes dos óculos, agora vejo... vejo outra vez, já andava com uma dioptria a menos.

Bom, acho que um blog para ser decente tem de ter banda sonora, essa fica o que ouvi enquanto vinha para casa, recomendo que a oiçam enquanto sigo os meus preparativos para Leiden:

Morphine - Top Floor, Bottom Buzzer.

Ora, com a banda sonora certa a correr, começar a fazer a mala. Estou calmo, estou tranquilo, afinal nasci na hora de verão (já explico, já explico...)

Primeiro, um portátil...vou ter de continuar esta treta lá, ou pelo menos tentar

Segundo, o meu iPod. Claro, só que para isso tenho de arranjar um portatil.

não estarei a ficar yuppie? Certamente que não, apenas ando a falhar os essenciais,

pois falta:

- Casa para viver

- Conta bancária

- Seguro (obrigatório nos Países Baixos)

- Certificado de nascença, obrigatório para me registar como residente, o que por sua vez é obrigatório para tudo o resto.

- Bicicleta (alguem consegue viver na Holanda sem bicicleta? Acho que vou tentar arranjar uma cor-de-rosa mesmo, mesmo, mesmo fuleira para ver se ninguem rouba... ou amarela com bolinhas pretas? misto leopardo, misto "sei-lá-isto-parece-me-mesmo-fuleiro-pensando-assim").

Bom, nota-se que estou entusiasmado com a ideia? Na verdade outra coisa muito importante que falta é deixar as coisas mais ou menos organizadas no trabalho. Tarefa impossivel, o que só torna o desafio mais interessante. Sei que até domingo vou tratar de tudo o que conseguir, e depois se verá...

- "paciencia, paciencia y en el culo resistencia". Sobreviverei certamente e para todos os efeitos, vou-me mudar para o país mais chato do mundo.

Está longe de ser a primeira vez na Holanda... lembro-me de tirar por lá umas fotos, é um país de uma vegetação verde imensa... os companheiros de viagem, sempre os mais fantásticos... o cenário, digno de imensa filosofia e diálogos intensos em que nos auto-descobriamos:

- ah?

- isso!

- isso o quê? queres que te passe isto?

- não, o que estavas a dizer...

- sei lá o que estavas a dizer! tu é que pediste que te desse isto.

e etc, etc, etc... nunca posso continuar, porque nunca sei onde isto vai dar, nem que leitor me vai julgar...

Bom, sentimentos sobre ir para a Holanda? Para lá de tudo que se resume a uma frase, "I know it's gonna be allright", não é de todo simples partir, ainda que seja um ano, ainda que seja uma espécie de Erasmus outra vez, estudar numa instituição diferente, ainda que seja optimo voltar a estudar, ou pelo menos a esta distancia pareça, há sempre algumas preocupações. O que mais me empurra certamente é um sentimento de deslocação no espaço que me rodeia, sinto que o oxigenio que ainda assim me alimenta vem do facto de, mantendo uma vida aos olhos de terceiros não totalmente despida de algum valor, consegue, dentro da rotina, ser bastante diferente... Todos os dias de manhã, é certo, me enfio na banheira numa tentativa de acordar e ir trabalhar, todos os dias de manhã me meto no meu mini a caminho de Sintra, todos os dias ao longo do dia, faço coisas que gosto e outras que gosto menos, (e foda-se, há que dizê-lo, muitas que não gosto nada, momento em que penso "se fosse sempre bom, não me pagavam para o fazer"), mas mesmo assim é um trabalho original, um ambiente excelente. Mas daí ao resto...vai uma grande distancia.

A culpa claro, é de uma mulher qualquer, culpo sempre um qualquer amor antigo na minha vida pela minha personalidade cáustica. Quando todas as ex-namoradas falham porque no fundo sei que elas não podem absolutamente ser culpadas de bem..."TUDO!", culpo a minha avó paterna. Se fosse criança hoje em dia (e como gostava de ser criança, mas por muito que tente a minha data de nascimento vai cada dia, paulatinamente, ficando um dia lá mais para trás. Cada dia, paulatinamente, a minha certidão de nascimento vai ficando um volume mais para trás relativamente ao novo volume da Conservatória aberto... (chamo a isto, "filosofia de solicitador", faz parte integral de uma colectanea de epigramas, desenvolvida por mim, à volta de 6 volumes - não me atrevi a ultrapassar, ou sequer igualar, Proust - que escrevi durante o meu maravilhoso estágio)) como dizia antes destes enervantes parentesis todos, se fosse criança hoje em dia teria direito a psicologo e, com sorte, drogas receitadas à pala do enorme trauma causado pela minha avó e estaria pronto a crescer, para poder culpar todas as minhas ex-namoradas da pessoa cáustica que, paulatinamente, o crescer (ainda me recuso a dizer envelhecer) vai fazendo tomar conta da minha personalidade.

Bom, mas seja de quem for a culpa, há uns poucos meses atrás sentia-me totalmente deslocado em Portugal, tomei na altura duas decisões, que, se voltasse a entrar num centro comercial lisboeta o faria de fato-de-treino vestido, daqueles de poliester manhoso que pega fogo em formato tocha humana mal chegasse perto de um isqueiro e uma segunda decisão, aproveitar a oportunidade de ter um chefe fantástico e sair de Portugal para estudar.

Primeiro, admito, pensei Montreal, como tinha tudo a empurrar-me para ir, não consegui, a alternativa, igualmente atractiva, era Leiden, como a resposta da candidatura veio na fase pós conhecer Raquel, fui aceite. É sempre assim, agora, queria levá-la comigo. Antes, queria era ir e deixar toda a gente para trás. Especialmente à "fase quaresma" (a quem pensa que me conhece e não pesca o que é a "fase quaresma" vá 1) primeiro ver na enciclopedia o que é a quaresma (meus burros), 2) não, não suspeitar que eu tenho uma paixão secreta pelo Ricardo Quaresma 3) concluir que não me conhece assim tão bem e esperar que um dia me dê para explicar aqui melhor do que se trata. (assim como a teoria das pessoas nascidas na hora de verão)

Bom, mas é óbvio, a Raquel não vem comigo... como tudo tem vantagens, a Raquel não vir tem uma optima e óbvia vantagem... posso culpá-la a ela se tudo correr mal! (...eu sei, sou um coVarde.)

Enfim, tudo somado, sei agora que se me tivessem recusado a candidatura e por cá ficasse a engordar ainda mais, não ficaria nada feliz. Tanto tempo a querer ir, fez com que tudo à minha volta se tornasse algo efémero, cansativo e de mau gosto...assim mesmo, ao estilo do fato de treino que comecei a usar quando vou ao Colombo.