Wednesday, December 27, 2006



To R about x-mas
David Bowie - Hang on to Yourself
Para finalizar a quadra natalicia,
Eu odeio o natal. Sempre odiei, por razões que não vou perder tempo a explicar, mas odeio o natal. Certamente, até ter filhos, nunca gostarei do natal e nessa altura, até poderei gostar do natal, mas como terei filhos, não gostarei da minha vida em geral e será suficiente saber que eles gostam do natal. Bom, não interessa, para mim o natal é aquele grande barrete (por sinal vermelho com um pom-pom branco) que me enfiam todos os anos. Nem o entendo na verdade, acho o natal das coisas mais bizarras do mundo, um pederasta veste-se com um fato vermelho, de forma a ser facilmente identificável, e crianças sentam-se no colo dele, consoante ele se vai excitando, as crianças chantageiam mais prendas (ok, até aí tudo bem, mostra uma sábia venda do seu corpo), mas depois nunca chegam a levar as prendas e são engrupidas com a história de que ele vai de rena levar a prenda descendo pela chaminé.

Bom, porque tudo o que é mau tem um lado bom, porque aqueles que perdem, ganham de outro lado, e porque muitas vezes os que ganham não são os mesmos que perdem (sendo que em casos raríssimos é possivel constantemente ganhar mais do que perder, chama-se ser politico), do facto de eu odiar o natal, tu ganhas. Esse é o lado bom de eu detestar o natal, e ganhas porquê?

Aposto que estás algo curiosa. Sempre foste curiosa
91 918 40 XX

banda sonora: Clap your hands say yeah! – The Skin of my yellow country teeth

Ok, sim, o titulo deste post é um número de telefone. Sim, está incompleto. Sinto-me desconfortável em publicar um número de telefone assim na net sem mais nem menos, por isso, deixo-vos 99 hipóteses. Eu sei que ninguém vai mexer o dedo para descobrir, por isso não me importo muito.

Este estado fantasmagórico em que caminho (declarei-me, a partir de agora, como um fantasma pelo menos até ao fim do verão, dá-me imenso espaço para reflectir sobre as pessoas que me rodeiam, o ter abandonado a existência física permite-me observá-las, o pensarem que eu estou normal de carne e osso, deixa-as à vontade. Não, isto não é erva, sou mesmo eu a escrever sem rédeas (N. do T. fantasmas não sentem rédias, não têm realmente nada a perder).

De quem é o número? De uma mulher claro, uma rapariga a última vez que a vi, hoje será uma mulher já. Porque é que eu conheço o número? Decorei-o quando ele significava muito para mim, hoje tem um valor inteiramente diferente. Ainda funciona, btw, mas ela nunca me atende. Às vezes manda-me mensagens, quem me dera que não o fizesse, outras vezes, um e-mail, quem me dera que não o fizesse, não que me prenda a algo, sigo a minha vida feliz, mas porque se eu ligar, não me atende, se se sentir bem, não escreve, não faço a mínima ideia de que papel tenho na sua vida.

Há quem tenha amigos imaginários, o meu, Fernando Bolivar, é quase palpável, mas o nosso amigo imaginário partilha imenso connosco. Esta, existe mesmo, mas não partilha nada comigo. Parece, quando falo dela comigo mesmo, que estou a preparar uma adivinha, mas não é, a verdade é que não sei muito mais do que isto, ando voltas e persigo a minha cauda, por isso mais vale não dar voltas à cabeça, é um número. Sei que não posso contar com ele, pois quando me sinto deprimido e triste, (das quais 99% se passaram no último ano da minha vida), não adianta ligar. Contudo, se ela me mandar uma mensagem, eu respondo.

Recuso-me a perseguir, claro que era facilimo encontrá-la, mas não mexo um dedo por isso, é mais que óbvio que ela não quer ser encontrada, pelas atitudes evasivas, pelo tratamento de “outro” que ela me dá. Porque é que ainda existe na minha vida? Porque dá-me culpa.

Quando namorava com a Bárbara, ela gostava de mim. Eu nunca deixei a Bárbara por ela, ainda hoje não me arrependo disso, apesar de tudo o que depois se passou com a Bárbara, não me arrependo porque na altura era feliz com a Bárbara e só mesmo sendo muito feliz com a Bárbara lhe podia resistir. Eu era muito feliz com a Bárbara.

Acho que nunca fui outra vez tão feliz, quando penso nisso, vinte anos, primeiros anos da faculdade de direito, um velho BMW da minha idade que consumia a minha mesada em gasolina, tenho uma óptima recordação. Não me arrependo nada disso. Só tenho pena que a minha felicidade tenha magoado a rapariga do 91 918 40 XX.

Este natal, estive com o Ricardo. O Ricardo (mais um nome eu sei), tanto conhece a rapariga do 91 918 40 XX como a Bárbara. Não sabe o que é feito nem de uma nem de outra, e ficou espantado quando viu que recebi uma mensagem da Bárbara. Presumo que seja normal, o Ricardo é meu amigo e deve ter estranhado eu falar com alguém que me fez o que ela me fez.
Deixou-me a pensar, a atitude do Ricardo, acho que de facto uma pessoa normal nunca teria perdoado a Bárbara como eu perdoei, ou se calhar, como nos perdoámos. Não que eu necessitasse de perdão, mas o perdão é algo que vai nos dois sentidos. Porquê? Não sei, é algo que sinto.

Sinto igualmente, na Bárbara, uma excelente amiga, uma excelente amiga que ganhei porque soube perdoar e estar com ela sentindo-me feliz pela sua companhia. Partilhámos muito naqueles anos. Depois de nos termos separado, durante imenso tempo nem conseguia conduzir na Miguel Bombarda, dava a volta pela Duque de Ávila, hoje passo facilmente na Miguel Bombarda, sinto também (quem lê isto até pensa que eu não sou o filho da puta armado em racional que tantas vezes sou, tomando em consideração o número de vezes que conjuguei a verbo “sentir”), como dizia, sinto também que se não fossemos amigos, não conseguiria recordar com felicidade os anos que passámos juntos.
Saber perdoar, trouxe-me duas coisas, uma amiga no presente e uma recordação bonita no passado. Porque é que perdoei? Não sabia se ia ganhar algo ou perder algo quando perdoasse, mas arrisquei, sentia que a vida é mesmo muito curta para existir ódio ou rancor.

Em suma, Bárbara, és uma pessoa muito especial. Rapariga do 91 918 40 XX, já era altura de deixares de ser tão otária comigo.

Disclaimer: Na realização do presente Blog nenhum animal foi ferido ou morto. Faz-se igualmente salientar que as pessoas aqui referidas existem mesmo e, se as encontrarem na rua, não se esqueçam de lhes dizer que todos os segundos passados sem mim são segundos perdidos. Finalmente, às próprias pessoas referidas, não se preocupem com devassamentos da vossa privacidade, também ninguem lê o meu blog de qualquer maneira.

R’ X-mas

Banda sonora: white christmas – Darlene Love


A banda sonora que escolhi para este post é daqueles raros casos em que a própria banda sonora, define o post… explicando, a “white christmas” da Darlene Love aqui incluida abre o album “A christmas gift for you from Phil Spector”. Porquê? Bom, é natal, este CD é capaz de ser um dos poucos CD’s de natal que eu suporto, e porquê? Porque é produzido pelo Phil Spector. O que é mais engraçado é que não sou um qualquer adepto incondicional de Phil Spector ou da “wall of sound” (ainda que tenha sido visto algumas vezes a dançar ao som da “Dancing Queen” dos ABBA, é verdade, mas estava alcoolizado, uns (violam menores, eu danço ABBA, all in all, podia ser pior).

Mas também, se o que eu vou escrever tem alguma lógica, como não sou adepto de musicas de natal, e muito menos de musicas de natal, esta escolha está tão deslocada como o meu actual sentimento:

Estou a viver na Holanda, isso é facto não desconhecido de qualquer pessoa que alguma vez tenha vindo a este blog. Agora, como é natal, vim a Portugal. Claro que é óptimo vir a casa, claro que é óptimo finalmente poder sair à noite até horas indecentes, ter o burro do meu cão a dar-me lambidelas na cara, tomar um café decente, buzinar no transito, ser treinador de bancada, sentir uma enorme satisfação por não ter bigode, odiar taxistas, não andar de bicicleta, comer um bife no tico-tico, acima de tudo, estar com os amigos.

Mas dentro de mim, a impaciencia parece consumir muita coisa, eu sei, eu sei, sou um eterno insatisfeito, lá, reclamo daquilo, aqui, reclamo disto, não que seja uma pessoa de natureza queixinhas (ainda que uma pequena vitimização seja inevitável quando penso poder assim ganhar um abraço de uma rapariga gira), mas neste momento estou tão deslocado do meu próprio mundo como as musicas de natal sempre estiveram do meu gosto musical. Sou um gigante com um pé na Holanda e outro pé em Portugal, mas ao contrário dos outros gigantes (sim, já conheci um par deles na minha vida), sinto-me bastante pequeno, quase como um fantasma vou pisando pegadas que já antes preenchi quando estava vivo mas que agora são meros passos repetidos. Nada de novo acontece. Acho que resumindo, venho cá, descubro que o que encontrarei quando voltar para Portugal afinal, não é nada de especial.