Saturday, June 30, 2007


Pato Bravo

banda sonora - Ratatat - Seventeen Years

A Polícia Judiciaria fez uma operação que visou apurar milhões de euros em fuga fiscal por parte de empresas de construção civil. Mas no meio disto tudo, há algo preocupante. A operação, segundo a PJ, chamou-se "Operação Pato Bravo", o que, como é conhecimento geral, é uma expressão de calão, de tom negativo, utilizada precisamente para a classe dos construtores civis.


Este gosto (ou falta dele) na escolha das operações devia claramente ser pensado. Numa sociedade de informação como a nossa, onde nos arriscamos tanto a um sentimento punitivo geral e onde a condenação não é feita por tribunais que demoram anos a decidir, mas por jornalistas que julgam tudo poder e saber (dos quatro poderes há algum que, actualmente, funcione tão rapidamente como o quarto poder em emitir irresponsáveis juízos de culpabilidade) onde uma mera acusação é quase uma sentença de culpabilidade a nossa querida Polícia parece não resistir a colocar algum escárnio julgador na sua actuação.


É pena, pois os construtores civis continuarão a ser vistos da mesma maneira pela sociedade (que também não os vê muito bem de qualquer maneira), quem perde com este tipo de decisões é a própria PJ, a qual se revela vulnerável ao ressentimento, ao insulto, ao mau gosto. Como pode uma polícia assim ser levada em conta como parte da soberania nacional? Quem quer ser respeitado tem de fazer o mínimo para o merecer.


Parece que se aplica a velha máxima, da Teresa que andava na escola primária comigo que me apontava o dedo e dizia "...quem chama é quem é, quem chama é quem é..."

Sunday, June 24, 2007

Master of my faith, Captain of my Soul

Banda sonora: The Clash - Career Opportunities

B. acorda de manhã, uma nova era começa. Olhando para o relógio sabe que tem tempo suficiente. Mais do que suficiente conclui, enquanto toma o pequeno-almoço fixado no texto do pacote de cereais que ele sabe de cor, mas de manhã ajuda a não pensar. Entretem-se a fazer contas matemáticas. Barbear e Banho x minutos, vestir y minutos. O tempo é mais do que suficiente, conclui.

Escolhe o fato, não pode ser qualquer fato, hoje é um dia especial, é o seu primeiro dia no novo emprego. Procura um relógio, o melhor. Deixado pelo avô quando morreu, tem saudades do avô no qual pensa sempre que usa o relógio, mas usa o relógio sem qualquer sentimento de culpa ou remorso. Um avô não é um pai, aceita-se melhor. Procura a gravata, a tal gravata, aquela que não poderá sujar ao almoço, nada de sopas ou ensopados, foi cara esta mas fica muito bem com aquela camisa. Onde está a camisa? Oh não, será que a usou? Não, estava um pouco mais à esquerda no armário do sítio onde a costuma deixar. Veste-se, hoje, de um forma algo ritualizada, como se fosse a sua armadura em vespera de batalha. Há que causar boa impressão ao novo chefe. Os adereços entram no fim, o relógio a caneta a carteira, olha ao espelho e procura um sorriso confiante. Não há, isso é só nos filmes. Sai de casa depois de localizar as chaves de casa e do carro, estão no sítio do costume. Quando chega cá fora lembra-se, hoje é o seu primeiro dia da sua vida em que é desempregado.


Cansou, né?

banda sonora: Hefner - Repression Song

Estou cansado! Declaração egoísta e irrelevante aos outros. Apetece-me atirar o portátil pela janela, mas não posso. O facto de viver ao nível da rua tira o ar dramático da coisa e o facto de precisar do meu portátil tira qualquer remanescente vontade de o fazer. Mas apetece-me atirar o portátil pela janela fora porque estou farto dele. Estou farto dele porque o tenho usado sem descanso. Tenho-o usado sem descanso porque preciso dele e por isso, não o posso atirar pela janela. Pequeno puzzle.

Estou cansado de fazer um trabalho que é aborrecido, que trata de Direito Espacial e quando o tempo está a passar para poder começar a minha tese em paz e sossego. Quero trabalhar em exclusivo na tese, mas não posso. Trabalho devagar, mas não me consigo despachar sem ter real vontade de cortar os pulsos. Leiden, a minha Sabrosa Holandesa, continua na mesma. Por vezes, um palco montado numa das praças com uma banda popular holandesa que merecia ser atirada ao canal mais próximo. Atados aos instrumentos de preferência.

P.S. Quanto mais leio sobre ela, mais temo pela Lua. Quanto mais sei sobre ela, menos encantadora me parece quando a vejo à noite. Depois sinto a mão de Cássio sobre o meu ombro, a minha peça favorita passa-se na minha mente e tranquilizo-me: "The fault, dear Brutus, lies not in the stars but upon ourselves".

Pedalo tranquilamente para casa, a aplicação do "precautionary principle" à exploração espacial espera-me. No meu portátil claro está.

Thursday, June 21, 2007


Inland Empire - existência, essência.

banda sonora: Fat Truckers - Superbike (disponível na playlist)

Quando era miúdo sempre pensei que a existência linear era algo muito porreiro. Sem ela, nem sequer poderia jogar, ou ver, futebol.

Não sei ao certo onde acaba a Mulholland Drive. Nem sei ao certo onde começa, já agora. Certamente em Hollywood começará, (ou acabará... whatever...). Não sei ao certo qual a fronteira de Inland Empire. Será no seguimento de Los Angeles. Também não sei porque é que Lynch decidiu, a determinado ponto, que os seus filmes deveriam ter um título com sentido geográfico. Se calhar não decidiu. Mas que Inland Empire me parece a um passo de Mulholland Drive parece. yo no digo que lo sea, pero que sí, que parece!.

Quem procurar uma crítica cinematográfica decente, não a encontra aqui. Não sou crítico profissional. Sou jurista e daí este parágrafo me cheirar a "disclaimer", e "disclaimers" cheiram mal, por isso há que acabar o parágrafo imediatamente.

A porra do filme é uma montanha russa de três horas. Montanhas Russas são fascinantes pela sensação de perigo que transmitem sem se correr realmente algum perigo. Para mim, aquelas três horas (bom, descontando os minutos em Polaco legendados em Holandês em que apenas me sentei na cadeira reconfortando-me pensando que não eram aqueles diálogos que me explicariam o filme), foram um perigar da minha existência linear, dos simples conceitos de espaço e tempo, de um filme sobre um filme amaldiçoado (e até que ponto são dois filmes diferentes) pois a maldição é a eterna confusão de paralelos, existências trocadas, um perder dos sentidos mais inerentes à existência humana que é sabermos onde estamos e em que momento.

É uma continuação do Mulholland Drive, é um passo em frente, é um pouco à frente na estrada seguindo as poderosas auto-estradas de L.A., é a mesclagem total de filmes sobre filmes sobre espectadores sobre filmes sobre ontem sobre amanhã sobre salas que se repetem num espaço contínuo, um salto de trapézio sem ninguém do outro lado que segure e a queda, a queda nunca mais acaba, pois não há tempo ou distância que a controle. Não percebo quem odeia o filme e à saída diz que não percebeu. (de novo visito na memória o momento em que saí do Mulholland drive, insatisfações iguais, na altura em Madrid, desta vez em Haia). Porquê tanta raiva de não perceber um filme quando não oiço comentários raivosos contra a nossa existência por não compreender a sua essência?

Adorei o filme...acho! Sei lá por que universos andei.

Monday, June 18, 2007


Chuva


banda sonora: Pink Martini - La soledad (disponível na playlist à direita)


Bate leve levemente, como quem chama por mim,


Será chuva será gente, chuva não é certam...


hey! claro que é chuva! Afinal, estou na Holanda e há mais de uma semana que chove todos os dias.


Ainda bem que o inverno acabou, que o frio se foi. Agora, fica apenas a certeza de que sair de casa sem um chapéu de chuva é um erro, que um passeio no parque só pode ser concluido com um sentar na relva se levarmos um saco de plástico pois a relva está sempre molhada.


Aqui não há dança das estações, há uma valsa de todas as formas gramaticais e lexicais possíveis para definir mau tempo. Nos meses que cá passei, os quais nem quero contar, já tive vento, frio, chuva, neve, tempestades e trovoadas. Agora olho lá para fora e enquanto oiço o som da chuva nas janelas e no chão não consigo deixar de me sentir melancólico.

Thursday, June 14, 2007



Vilar de Mouros

Ao menos que este blog sirva como muro, não de lamentações, mas de protesto, de palavras bradadas! Se ninguém lê, serve para não morrer de cancro, que reprimir faz cancro.

Li hoje no jornal "O Público" que o festival de Vilar de Mouros deste ano foi cancelado.


Depois vou ver o jornal desportivo, onde mais uma vez o Porto e o Benfica andam atrás dos mesmos 3 ou 4 jogadores como se não houvesse mais do que 30 futebolistas no mundo inteiro para todos os clubes do mundo.

O que é que uma noticia em a ver com a outra?
Para mim, sempre o mesmo estúpido problema da mentalidade.
Falemos do festival. O festival será cancelado por falta de apoio da câmara, a falta de apoio resulta de conflitos entre a câmara (PSD) e a junta de freguesia (CDU) originados já na discussão do traçado da A28.
Ora, de "trincas" e "guerras" perdem todos os outros, a câmara e a junta podem ter diferendos, mas podem também coordenar a realização de um festival que ajuda ambas. Assim, perde a junta, perde a Câmara, perdemos todos que ficamos sem festival.
Esta incapacidade de deixar os diferendos de lado para realizar um bem comum é um lástima constante em Portugal, mostra relações institucionais "de criança" entre dois órgãos políticos eleitos e deixa-nos a desejar que seja realizado um festival a poucos kilómetros, do lado Espanhol da fronteira. Depois vem o choradinho, sem qualquer admissão de culpa e sem perceber como pode tal coisa ter acontecido.
Imagine-se a secretária do Presidente da Câmara, um dossier chamado Vilar de Mouros, e o Presidente coloca um "x" no topo só por culpa de um outro dossier. Se calhar até acha que é uma forma de pressão (infelizmente, nem acredito que seja um problema de cores políticas porque já ninguém é ninguém neste país), mas não acredito que seja tão cego ao ponto de não reconhecer que também se prejudica. Cooperar em certas áreas com uma junta enquanto existem diferendos noutra área não é hipocrisia, é governar. Ou alguma empresa deixa de vender a um cliente mensal porque uma factura com dois anos anda em diferendo entre as partes?

Igual com o futebol, onde a luta pelos mesmos jogadores aproveita apenas aos agentes, que veem as propostas inflaccionar com um aceno ao clube rival do jogador pretendido por um, depois é só esperar pelo outro e esfregar as mãos de contente, como a Raposa as esfrega sempre que vê um parvo ao pé do poço, e toda a gente sabe como nós gostamos de ser parvos.

Wednesday, June 13, 2007


Otário - (masc. sing. adj.), termo de gíria aquele que defende a localização da Ota para o novo Aeroporto de Lisboa,

(Zool.) ontário; género de Crustáceo.

banda sonora: Pink Martini - Je ne veux pas travailler

Não queria falar da Ota. Mas vou falar da Ota. O que tenho a dizer da Ota, já o disse várias vezes, por isso vou apenas preocupar-me com o défice de discussão em redor do tema. Sim, é possível que alguém ache existir um défice de discussão sobre a Ota, não porque não tenha já muito sido dito e escrito sobre o novo Aeroporto. Até acho que já está tudo farto disso, apenas, por culpa dos media que não fizeram o seu trabalho de casa ou por culpa dos políticos Portugueses que continuam a preferir reiterar discursos demagógicos sobre a real discussão dos temas ou mesmo, em último caso, de um público que permite este estado das coisas (pois todo os poderes, desde os três de Montesquieu ao quarto poder da imprensa têm como base de poder uma sociedade que permite esta atitude).

Preocupo-me pois com um novo Aeroporto de que ninguém fala, ou que apenas se fala da quantidade de sobreiros ou pinheiros que serão abatidos, acusados de desconfiança ouvem-se a meia voz sobre quem fará dinheiro fácil com os terrenos na Ota ou na margem sul (e já agora, porque é que ninguém se pergunta sobre quem vai lucrar com os terrenos do actual Aeroporto da Portela?), deixando as questões referentes à politica de aviação nacional na gaveta.

Ok, alguém vai ganhar dinheiro em especulação imobiliária, mas isso já sabemos nem outra coisa podemos esperar num país onde cada metro quadrado serve para construção urbanisticamente mal planeada. Que arquitectos fazem concorrência a Solicitadores no jogo de favores de departamentos urbanísticos em Portugal não é mistério, mas a construção de um novo Aeroporto deve levantar questões na sociedade Portuguesa bem mais específicas que o simples erguer do betão.

Por exemplo, qual é o aumento real de capacidade do Aeroporto da Ota relativamente ao Aeroporto da Portela? Mantendo duas pistas e meia duzia mais de terminais depressa ficará lotado, há realmente capacidade de expansão? Por outro lado, Aeroportos servem para servir companhias aéreas numa industria conhecida por ser cíclica, podemos prever que o aumento de tráfego no Aeroporto se mantenha a crescer continuamente nos próximos anos? Quais as previsões da Industria Aeronáutica para Lisboa, e da TAP a qual "é voluntariada" pelo Governo para assumir a posição de transportadora dominante no novo Aeroporto?

Outra questão que me preocupa é o financiamento do projecto. Quando a Ota foi aprovada foi definida uma forma de financiamento semelhante à usada no novo Aeroporto de Atenas. O problema é que a Olympic Airways faliu precisamente por ter sido "voluntariada" pelo Governo para assumir uma posição de transportadora dominante naquele Aeroporto. O paralelismo entre o caso da Olympic e da TAP assusta-me quanto ao futuro desta última.

A qual será privatizada e "enfiada" no novo Aeroporto. Esperemos ao menos que o projecto de "dar lugar a low-costs" na Portela haja sido abandonada. Quem papagueia tal solução deveria pensar no que diz e fazer um "reality check", mas por acaso a TAP conseguiria competir em voos para Lisboa contra low-costs a pagar menos para voar para o centro de Lisboa em vez de aterrar a 50 kilometros? (ou 60, ou 40, a questão é a mesma). Não há problema, o rei passeia-se pela rua enchendo os bobos a boca com guizos e gritos de "hub". Pois, "hub", voos de sexta liberdade a passar pela Ota. Curiosamente as operações "Hub and Spoke" estão em declinio para transportadoras nacionais pequenas e médias. Mas isso descobriremos daqui a uns anos, da pior maneira.
Daqui passamos do Aeroporto para a TAP: Que tipo de privatização? Investidores nacionais ou comunitários? Tem a revisão de Acordos de Serviços Aéreos sido feita ou preparada pelo Governo Português para enfrentar essa realidade?


O governo Português, o qual é proprietário de todos os Aeroportos Portugueses e de todas as transportadoras regulares Portuguesas tem um plano forte de privatização englobando a ANA e a TAP, mas os contornos não são conhecidos e, pior ainda, não são discutidos em praça pública. Mais assustador é pensar que o regime de todo um sector industrial Português vai ser revolucionado e os títulos dos jornais falam da mais-valia dos terrenos dos Aeroportos. Somos mesmo um país de betão.

Monday, June 11, 2007



Patti Smith said Goodbye


Banda sonora: Doves - There goes the fear


Alguma saudade levarei comigo de Leiden. (Não fosse, como Português, um ser condenado à saudade de todos os sítios que ficam para trás). Terei saudade de, como disse um dia o Pedro: "ir para casa e levar uma holandesa no banco de trás da bicicleta".

De qualquer forma, às vezes penso naqueles sítios onde vamos uma vez na vida e onde pensamos nunca voltar para depois, repetidamente, lá irmos. Tornam-se parte da nossa vida e temos de os repetir vezes e vezes sem conta, sempre contrariados. Como eu espero que Leiden não seja assim para mim.


P.S. Ontem era o concerto da Patti Smith, só soube há três dias e por isso já estava esgotado, au revoir my darling. Um dia destes encontramo-nos, o Mapplethorpe não tinha nada que eu não tenha (coff,coff)