Sunday, July 29, 2007




O amigo da Morte


banda sonora: Velvet Underground - The black angel's death song

Na republicação da colecção de literatura fantástica, o volume dois contêm um conto chamado "O amigo da Morte". A organização da colecção foi feita por Borges e, mais um vez, sinto-me agradecido a Borges por momento tão original e de leitura tão agradável. O conto encerra, para mim, uma maravilhosa originalidade, além de conter elementos que rapidamente se compreende terem sido de interesse para Borges, (os quais não revelo pois surgem no fim do conto), houve um pormenor que me fascinou, o herói da história faz um pacto com a morte, a qual se diz sua amiga.

De imediato pensei que o pacto correria mal para ele, escrito numa época de valores católicos fortemente presentes em Espanha, sente-se um clássico momento de Fausto no momento, como se Schlehmihl tivesse acabado de vender a sua sombra à figura demoníaca que o persegue, a imagem está lá, em total semelhança, um herói desesperado, sem finalidade, de alma perdida, tocado no ombro pela morte que lhe fala carinhosamente e um pacto duvidoso assinado. Mas, e o que me pareceu maravilhoso no conto em questão, a morte cumpre o seu pacto e, ainda mais, a venda da sua sorte à morte não só não leva o herói ao engano e perdição mas, pelo contrário, salva-o da perdição do dia do juízo final.

Esta publicação, na mesma altura em que é publicada a "intermitência da morte" de Saramago, foram um óptimo acto de public relationships por parte da morte.

Pelos vistos a nossa condição humana e os dados do destino são negociáveis, temos de ter cuidado é com a contraparte que escolhemos.

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