Saturday, September 30, 2006


Copenhaga



Estou em Copenhaga, por uma lado sentia uma vontade enorme de sair de Leiden e da opressão que sobre mim caia, (um dia aqueles canais vão-se revoltar e bicicletas choverão sobre os Holandeses) por outro, já tinha viagem preparada de qualquer maneira. Após as aulas saí directo para casa, hoje mal tive contacto com os restantes alunos da turma. O Jason e o Scott sempre juntos, o Kabera sempre sorridente. Aquele homem anima-me de certa forma com toda a tranquilidade que encerra dentro dele. Enfim, passando à frente, abandonei a aldeia (“The village” num tom muito identico ao “the shop” no League of Gentleman) e dez minutos depois estava no aeroporto. Comi qualquer coisa a correr pois estava bastante adiantado e, quando fui fazer o check-in constatei uma coisa maravilhosa. O meu voo foi cancelado. Assim, sem mais nem menos, em toda aquela confusão de companhias aéreas, códigos de voo, portas de embarque, balcões de check-in, um destacava-se pela sua informação simpática e seca: “cancelled”.

Permitam-me agora por a minha metralhadora de Chico Norris, e dizimar todos os malvados Schipolenses enquanto salvo o meu coiro e chego até Copenhaga, é urgente cumprir a missao pois, quero ir à conferencia, ficar será uma enorme batalha para obter toda a minha compensação e, acima de tudo, o João Semedo tem as minhas ajudas de custo. Por isso, vou agora gabar-me de como friamente enfrentei todos os adversários.

Tranquilo decidi por os meus conhecimentos de direito aéreo em prática, dirigi-me ao balcão da KLM onde me disseram que tinham já alterado o meu voo para o dia seguinte de manhã e que portanto não tinha nada que me preocupar. Tudo estava a acontecer, como tantas vezes ouvi outros reclamar que lhes acontece, como tantas vezes encontrei relatado em e-mails e cartas de reclamação, desta vez...tinha-me calhado a mim. Um enorme sentimento budhista caiu sobre mim, e, aceitando o destino como é, fui para casa...

Não, não foi nada disto. Não voltei para casa porque um voo no dia seguinte não me servia de nada porque o que eu queria era ir a uma conferência no dia seguinte. Então com um enorme sorriso na cara e o tom enervantemente tranquilo que tento sempre produzir nestes momentos, expliquei que não podia ser pois precisava de ir para Copenhaga nesse dia, que de acordo com o Regulamento 261/2004 eu tinha direito a uma enormidade de coisas que iria de seguida elencar, mas que começava pela primeira, “re-routing” para o destino o mais rapido possivel, - não deixei nunca esquecer, ainda que dito de passagem, que a conferência onde ia era uma conferência de Direito Aéreo -.

Assim, subitamente, tinha um boarding pass de executiva no voo seguinte ainda aquela noite para Copenhaga, dinheiro para comer qualquer coisa enquanto esperava, crédito para usar no telefone ou e-mail do Aeroporto, e um voucher de 50 euros a descontar no meu próximo bilhete comprado na KLM. É verdade, há coisas boas em trabalhar em direito aéreo.

Pelo que, passei umas quantas horas na sala de espera da KLM, royal lounge, claro está já que me tinham feito um upgrade, no meio de gordos executivos de cinquenta anos a pensar como era indecente não ter acesso à internet naquele lugar. Comprei um filme em DVD para passar as horas, “A streetcar named desired” por 15 euros pareceu-me o melhor negocio – ainda que não tenha chegado a ver o filme – e deixei-me ficar no confortável sofá a pensar na vida, a pensar em Leiden, pensando muito...sobre os recentes acontecimentos, sobre as pessoas da nossa turma que poderiam ter cometido um crime, uma coisa que nos parece existir apenas nos filmes e que de repente ali estava, na minha vida, “enfiado” no meu calendário, complicando o que poderia ser simples, baralhando, o simpático professor Hannappel, toda a minha vida.

Pensei igualmente em Copenhaga. Eu adoro Copenhaga, é um cidade mesmo especial, o problema é ser tão cara, mesmo assim, tanto que me diverti por cá. A minha primeira chegada a Copenhaga fazia sol, cheio de sono por ter feito uma directa e outros precalços de interrail pelo meio, lembro-me de ter chegado à pousada do grande jamaicano preto chamado Mike que afinal, era uma velhinha dinamarquesa, como dormi umas 16 horas seguidas na sua pousada, como o chuveiro tinha um cheiro estranho que ainda hoje, oito anos depois, me lembro. Como comprei bolachas dinamarquesas a pensar que estava a receber um saco cheio daquelas bolachas que adorava em criança naquelas caixas azuis arredondadas (que, infelizmente, nunca duravam muito tempo) e afinal sabiam mal porque levavam gengibre ou coisa parecida, Copenhaga é maravilhoso, pena que, de certo ponto, irrite como a cidade é tão cara. Que prédio maravilhoso onde se viver, com esta praça onde tudo é bonito – mas o preço deve ser exorbitante - , que ruas excelentes onde se passear, incrivel como até as bicicletas têm melhor aspecto que na Holanda feitas em Titanio – pena que custem mais de 300 contos - , que ruas amplas, que som de carro a vir – pois claro, é um ferrari, não, é um ferrari 599 GTB – vou apenas dar um excelente passeio pela Stroget, e fingir que sou de cá. O melhor mesmo, é imaginar que vivo cá. Telhados verdes, uma historia de tareias levadas no seu próprio porto pelos Ingleses, ocupação nazi e um bairro que quer ser independente. Copenhaga tem de tudo. Provavelmente também terá assassinos.

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