Thursday, October 19, 2006

Happy Hour at Odessa
banda sonora - Matt Elliott - What's wrong
Passei o dia de certa forma nervoso, que seria que o Imoh me queria contar? Que é que poderia ser tão importante que ele quisesse encontrar-se comigo para me falar tendo-me avisado assim que me viu, contudo não pudesse ser contado ali, na faculdade, onde todos estamos?

Em vez disso, combinámos no Odessa às dez da noite. O que fazer para o tempo passar? Inscrevi-me em aulas de Holandês, não que pretenda falar bem a língua, mas pelo menos perceber minimamente o que me rodeia, a começar nas prateleiras de supermercado. Contudo, no meio de todos aqueles “jij’s”, “julliet’s” “verbonkt’s” e coisas parecidas, que oscilam entre o facil de aprender por lembrar o Inglês e um pouco o Alemão – do qual esqueci o pouco que conhecia, mas ainda vagamente reconheço a estrutura e forma no Holandês – e o dificil de entender o incompreensível, o frustrante e a vontade de desistir logo de ínicio, a secura da professora para quem deve ser um fastidio total ensinar o tão básico a pessoas adultas sem grande vontade de aprender, enfim, tudo isto se passava ao meu lado e eu via, algo assimilava, mas pensava em algo diferente, pensava no que poderia ter acontecido esta semana que tive fora que o Imoh me pretendesse contar,

No Odessa, chegado pouco depois da aula, encontrei o sitio quase vazio, o Imoh sentado numa mesa do fundo com a Agnes, a sempre presente Agnes, a gorda polaca Agnes que, apesar de ter bom coração, me choca com a sua simplicidade e pobreza geracional, o orgulho na sua pulseira que me mostra enquanto diz: “look, mexican silver, my parents brought it to me” e eu tento esconder o desdém que tenho pela sua simples pulseira tentando mostrar-me afável tendando enfim, esconder o aborrecimento que para mim é o seu encantamento com coisas triviais e burlescas. Recuso-me a viver um romance de Zola na minha vida real, e a Agnes, roliça, olhos gulosos, amante do Imoh, perfeitamente consciente que este tem a sua namorada na Nigéria e que ela não é mais que mastigável para ele, recorda-me tantas vezes a Naná, apenas mais “boazinha”.

Ele parece não querer falar, pelo menos não com a presença da Agnes, disse-me que esteve em Paris outra vez este fim-de-semana, este homem adora Paris, e no fundo, quer aguardar que comece a famosa “happy-hour on Monday’s at Odessa”, momento em que o bar subitamente enche, as canecas de cerveja aparecem de todo o lado e a enorme caça ao engate dos Erasmus se inicia, é um periodo de coutada sem limites de caça, cada um pode tentar o máximo de mulheres, ou homens porque elas também o praticam, e quando a noite vai correndo e o alcool as vai enchendo, mais facil tudo se torna. Para mim, sem desprimor, é uma seca. Caso exista alguma obrigação de homem latino de tentar o que quer que seja, eu falho tremendamente nisso, na verdade, aborreço-me nestas festas que considero, angustiantes. Velhas conversas de: “where you from? Ohhh, Lisbon, where is it? Portugal? Oh no, I know where it is… so you speak Spanish, right?. Um contingente inteiro de Americanas que não conseguem fazer uma frase sem utilizar 15 vezes a palavra “like”, tudo é “like” alguma outra coisa, mas nada é realmente como é, não sabem ser descritivos sem usar termos comparativos? É tãããããooooo cansativo, e eu estou claramente velho demais para alinhas nestes constantes jogos de engate, “men fighting for bones” e cerveja a rodos em todas as mesas. Subitamente, não sei de onde, tenho uma oriental que nunca vi na vida a chorar-me no braço pois descobriu que gosta do ex-namorado, eu nem sequer me preocupo em fingir que me importo, pois não me importo mesmo nada para além do facto de ela me incomodar, na verdade, eu só quero sair daqui para fora. Sair, sair, até o Imoh perceber e afastar-se comigo, agora sim, ele quer falar, a Agnes presente, pelos vistos, fazia diferença para ele, nem sequer um pouco respeito ela requer, até segredos e vida a sério ela permite que ele tenha com qualquer pessoa, até comigo. Ela sabe que eu sei, ela sabe que toda a gente sabe como o lugar dela está reduzido a um pequeno espaço no tempo dele, que a sua importancia não é universal, é relativa, como é que ela aguenta? A que mediocridade de vida se condena ela para que aceite isto?O Imoh conta-me, vai jantar a casa do Pablo, o Pablo quer falar com ele, quer discutir diz-me ele, a vontade e interesse dele na Maçonaria. Claro que eu não acredito muito no que ele me diz, nunca achei real que a Maçonaria fosse algo abertamente falada como ele fala e nunca pensei sequer, que uma das famosas secretas organizações que toda a gente conhece não evitasse, ou melhor, olhasse com reduzida importância a pessoas que abertamente falam que o querem ser, porque abertamente admitem que querem ser algo, que algo serve, seja o que seja. Nunca levei a sério o Imoh, mas então, que intenções terá o Pablo com ele? Que pretende aquele homem desta pessoa? Infelizmente a conversa

1 comment:

Trendy Jorge said...

Finalmente uma palavra para descansar as hostes. Já pensávamos que te tinhas perdido pelo caminho, quiçá numa coffee shop nos meandros de Amsterdão.
É bom saber que estás de volta à tua nova vida: Cluedo meets Queer as Folk meets Lost meets Dead Poets Society.
Não sei se te apercebeste ou até se foi propositado, mas o post não tem conclusão. Convinha satisfazeres por conmpleto a nossa curiosidade. Já só faltava a tua vida transformar-se numa espécie de Código Da Vinci Maçon. Vai dando notícias.

Live long and prosper!